quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Marcos 15:33-37 - O Dia em que Deus "Morreu" na Cruz

Série de Sermões em Marcos
Passagem: Marcos 15:33-37
Título: O Dia em que Deus "Morreu" na Cruz
Pregado na manhã de Domingo, do dia 19 de agosto de 2012,
na Igreja Reformada em Campinas Soli Deo Gloria,
por Gustavo Barros

Versão em vídeo

Marcos 15:33-37 33 E houve trevas sobre toda a terra, do meio dia às três horas da tarde. 34 Por volta das três horas da tarde, Jesus bradou em alta voz: "Eloí, Eloí, lamá sabactâni?" que significa: "Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?" 35 Quando alguns dos que estavam presentes ouviram isso, disseram: "Ouçam! Ele está chamando Elias". 36 Um deles correu, embebeu uma esponja em vinagre, colocou-a na ponta de uma vara e deu-a a Jesus para beber. E disse: "Deixem-no. Vejamos se Elias vem tirá-lo daí". 37 Mas Jesus, com um alto brado, expirou.

Introdução:
De todos os símbolos que usaram para o cristianismo [pão, peixe, pomba...] o que mais marcou foi a cruz. O símbolo de vergonha e humilhação se tornou para os cristãos a grande representação da religião. Por quê? O que faz a cruz um símbolo tão maravilhoso? A resposta é simples e perplexa ao mesmo tempo. A cruz é maravilhosa, pois foi nela que o Deus encarnado – Jesus Cristo - morreu vicariamente pelo Seu povo.

Para a maioria das pessoas tal ideia é loucura e escândalo. O grafite de Alexamenos que tinha um homem crucificado com a cabeça de um asno tinha a seguinte inscrição debaixo do grafite: ‘Alexamanos, adora seu Deus!’. A implicação de tal desenho e afirmação é que um deus que se agradou em se encarnar e morrer numa cruz romana só poderia ser um asno/louco, consequentemente todos os que adoram esse deus são burros!

Na mitologia pagã, os deuses estavam sempre irados, por isso era necessário sacrifícios constantes para apaziguar a ira descontrolada deles. Era inconcebível a ideia de que um deus seria tão rico em amor e misericórdia que ele próprio providenciaria o sacrifício perfeito para apaziguar uma ira santa e perfeita.

A morte de Jesus – o Deus encarnado – é o que há de mais simples e mais profundo para a mente regenerada compreender. É simples, pois nela vemos o amor de Deus manifestado como em nenhum outro lugar – Jesus morreu pelos ímpios (Rm 5:8). E ao mesmo tempo é tão perplexo e insondável é a ideia de que Jesus – totalmente humano e totalmente divino – morreu por nós. Como poderia o Deus que é o Alfa e o Ômega ter morrido?

A pergunta que Charles Wesley fez em seu hino, ‘Como Pode Ser?’ [How can it be?], ‘Como pode ser, Tu, meu Deus, morrer por mim?’, tem provocado muitas pessoas.

O teólogo R.C. Sproul rejeita com toda a força a ideia de que Deus morreu na cruz, em um artigo ele diz, ‘Nós deveríamos nos encolher de horror com a ideia de que Deus de fato morre na cruz. A expiação foi feita pela natureza humana de Cristo.(http://amecristo.com/2012/03/24/deus-morreu-na-cruz-r-c-sproul/). D.A. Carson, por outro lado, em um dos seus sermões fala de Deus morrendo na morte de Jesus (http://thegospelcoalition.org/blogs/tgc/2010/07/29/audio-and-video-for-d-a-carsons-the-god-who-is-there/).

O problema é que não é tão fácil assim de explicar a morte de Jesus como Sproul tenta. Jesus ao condenar o pecado em Sua carne (Rm 8:3) condenou-o por toda a eternidade e isso implica em algo muito além da humanidade. Para que a condenação fosse eterna era necessário que fosse aplicada em um ser eterno!

Sabemos que a morte não é o cessar do existir. A morte não implica em não-existência. Por isso sabemos que por um lado Deus nunca deixou de existir. Mas por outro lado, Jesus de Nazaré – que era totalmente divino - morreu (Ap 1:17-18).

Creio que são nessas horas que precisamos simplesmente reconhecer: 1 – nossas limitações; 2 – a profundidade da sabedoria de Deus; 3 – o incompreensível amor de Deus (Fp 3:19 e conhecer o amor de Cristo que excede todo conhecimento); 4 – Que o Evangelho é um mistério que agora conhecemos em parte (Ef 5:32; I Co 13:12).

A ideia de um Deus imortal se encarnar e se fazer mortal, para que por meio da Sua morte pessoas mortais, como nós, pudéssemos ter a imortalidade é realmente profunda de mais para nós! É profunda, pois o amor e a sabedoria deste Deus são profundos!

Se Plinio (historiador romano) viu que era impossível para Deus conceder imortalidade para os mortais (Naturalis historia 2.27), para ele era igualmente impossível que o deus imortal se tornasse mortal e morresse. Imortalidade pertencia aos deuses e mortalidade aos homens. Mas que tipo de deus era proclamado entre os cristãos? Um deus que na verdade morreu? Pior, um deus que morreu numa cruz! Não é de se estranhar que o grafite do segundo século, encontrado em uma parede, tivesse um homem crucificado com a cabeça de um burro!... De que proveito é um deus que permite ser morto, principalmente a morte na cruz? Que tipo de deus faria isso? Que tipo de deus é esse?... Na pessoa do Filho, Deus se fez carne e sangue, e ajuntou todos os nossos gritos de abandono. E mais! Ele não só compartilhou das nossas experiências comuns de abandono nesse mundo que está sob a sombra da morte. Lá, na cruz, na pessoa do Filho, o próprio Deus suportou a ira de Deus – no nosso lugar! Deus fez o impossível (Mc 10:26-27). Deus pagou o resgate para nos libertar do julgamento da morte (10:45), e ao fazer isso Ele concedeu imortalidade à nós, mortais. Numa cruz repulsiva... Deus se aproximou.(Peter Bolt, The Cross from a Distance, IVP, pgs.144-145)

Independente de conseguirmos compreender todas as implicações teológicas da morte de Jesus a verdade é que foi naquela cruz que Deus se aproximou de nós e se reconciliou com o homem pecador!

Contextualização:
Nós chegamos ao ápice da história da redenção, a hora que Deus morreu na cruz pelo Seu povo. Se a crucificação de Jesus é a coroa do estudo de toda teologia, então podemos dizer que os versículos 33-39 do capítulo 15 de Marcos são os diamantes (as joias) dessa coroa. E com certeza o versículo 37 é o Monte Everest de toda a Bíblia, ele é o Diamante Rosa da coroa!

Marcos 10:45 diz qual foi o motivo do nascimento e da vinda de Jesus! As várias profecias na Bíblia e em Marcos sobre a morte de Jesus se cumprem aqui.

Estamos na cena final da morte de Jesus. E durante esse acontecimento Marcos narra cinco eventos extraordinários e dignos de toda a nossa atenção: 1) a Escuridão; 2) o Grito de Jesus; 3) o Último Brado de Jesus; 4) o Rasgar da Cortina; 5) a Conversão do Centurião.

Cada um desses eventos é um tesouro de riqueza que precisa ser examinado com calma e cuidado. Hoje estudaremos os brados de Jesus na cruz e a Sua morte!

Divisão do Estudo:
I – AS TREVAS (v.33)
II – O BRADO DE ESPERANÇA (v.34)
III – A PERVERSIDADE NO CALVÁRIO (v.35-36)
IV – O BRADO DE TRIUNFO (v.37)

I – AS TREVAS (V.33)
33 E houve trevas sobre toda a terra, do meio dia às três horas da tarde.

As trevas são o primeiro sinal que acompanha a morte de Jesus. Como foi visto no estudo passado as trevas apontavam para a presença de Deus Pai no Calvário em julgamento. Deus estava lá com ira e furor para punir o Filho Amado que se tornara pecado pelo Seu povo.

A escuridão não é a ausência de Deus, é a presença de Deus. É Deus em pleno julgamento vingativo, Deus em julgamento furioso por completo. É a ira infinita movida pela Sua justiça infinita, liberando punição infinita no Filho infinito que podia absorver todas as torturas do inferno infinito e fazê-lo em três horas. São nessas três horas que Ele carregou em Seu corpo os nossos pecados. É nessas três horas que Ele foi feito pecado por nós. É nessas três horas que Ele tomou a maldição sobre si. E às 3 horas da tarde acabou.(John MacArthur)

Devido a Sua perfeita santidade Deus precisava julgar e condenar o pecado que havia sido imputado em Jesus.

O número três implica na plenitude e perfeição de tudo o que ocorreu (a condenação) durante aquele período de tempo.

Se o Pai estava presente, então por que Jesus bradou, o que é narrado no versículo 34?
II – O brado de esperança (V.34)
34 Por volta das três horas da tarde, Jesus bradou em alta voz: "Eloí, Eloí, lamá sabactâni?" que significa: "Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?"

v.34POR VOLTA DAS TRÊS HORAS DA TARDE” --- Jesus foi entregue a Pilatos por volta das 6 horas da manhã (15:1), às 9h Ele foi crucificado (v.25), do meio dia às 3 horas da tarde trevas vieram sobre toda a terra (v.33), e aqui estamos às 3 horas da tarde da sexta feira. Jesus estava pendurado na cruz por 6 horas.

Marcos volta a repetir o tempo do dia para mostrar que Deus tem o controle de tudo. Tudo está ocorrendo no tempo perfeito do Senhor.

Era essa hora que se iniciava os sacrifícios dos cordeiros e as orações da tarde [At 3:1 Certo dia Pedro e João estavam subindo ao templo na hora da oração, às três horas da tarde]. O historiador judeu Josefo escreveu que os cordeiros eram mortos das 3 às 5h da tarde (Josephus, War 6:423-24).
Todos os dias havia o sacrifício da manhã e o da tarde – conhecido como o Sacrifício Perpétuo (tamid), quando um cordeiro era sacrificado (Ex 29:38-42).

Essa é a hora perfeita para o perfeito Cordeiro de Deus morrer!

Por volta das três horas da tarde, JESUS BRADOU EM ALTA VOZ” --- Isso não é o sussurro de um derrotado, não se trata de palavras que saíram com extrema dificuldade, mas sim de um grito. Jesus não está choramingando todo cabisbaixo!

O modo que Ele bradou essas palavras tocou o centurião (v.39). Portanto, podemos concluir que Jesus não está choramingando como um menino rejeitado e cheio de temor. O brado é forte e profundo.

No Antigo Testamento sempre que Deus fala em ‘alta voz’ Ele expressa Sua soberania (por exemplo, Dt 5:22 Essas foram as palavras que o Senhor falou a toda a assembleia de vocês, em alta voz, no monte, do meio do fogo, da nuvem e da densa escuridão; e nada mais acrescentou. Então as escreveu em duas tábuas de pedra e as deu a mim. 23 Quando vocês ouviram a voz que vinha do meio da escuridão, estando o monte em chamas, aproximaram-se de mim todos os chefes das tribos de vocês, com as suas autoridades. 24 E vocês disseram: "O Senhor, o nosso Deus, mostrou-nos sua glória e sua majestade, e nós ouvimos a sua voz vinda de dentro do fogo. Hoje vimos que Deus fala com o homem e que este ainda continua vivo!”). Aqui Jesus expressa Sua soberania sobre a Sua própria morte!

Que ninguém imagine Jesus como um menino triste com aquela situação, sem saber o que está acontecendo e cheio de temor.

O que Jesus bradou em alta e profunda voz?
Eloí, Eloí, lamá sabactâni? meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?

Muitos livros, artigos e estudos já foram escritos sobre esse grito de Jesus. Mais do que isso, muitos falsos ensinos foram criados baseados nesse versículo.

É a tentação de muitos professores tentarem clarificar o que aparenta ser difícil. Muitos interpretadores têm buscado fazer isso inventando ilustrações ou propondo analogias da obra de Cristo na cruz. Essa tentação, no entanto, deve ser resistida a todo preço. A história dessas ilustrações manufaturadas não é feliz; elas [as ilustrações] são obscuras, muitas vezes bizarras, desumanas, e geralmente totalmente heréticas... Como com a Trindade, devido a natureza única da cruz, analogias simplesmente não existem.(Peter Bolt, The Cross from a Distance, IVP, pg 128)

Para Mateus e Marcos a frase é simples e não deve gerar confusão. O problema é que muitos estudiosos complicam o que é simples.
O título desse brado de Jesus é conhecido como o ‘Grito de Abandono’. Mas será que Jesus gritou por se sentir abandonado?

O USO DO SALMO 22 NA PAIXÃO DE CRISTO:
A primeira observação a ser feita é que Jesus está citando o Salmo 22. Nenhum outro Salmo é tão usado na paixão de Jesus como o Salmo 22. Assim como o Salmo 110, esse salmo vai muito além das circunstâncias vividas por Davi. Davi inspirado pelo Espírito Santo (Mc 12:36) previu as aflições e glórias do Messias.

O Salmo 22 retrata na primeira parte os sofrimentos que o justo está passando, e na segunda parte do salmo a justiça e a glória de Deus na salvação do justo.

Alguns comentários judaicos dizem que esse salmo era lido na Páscoa, pois os lembrava da fidelidade de Deus (22:5). Em meio aos sofrimentos (como no Egito) o Senhor os libertou.

O começo do Salmo 22 diz, na maioria das versões, ‘Salmo de Davi para o músico-mor [ou mestre de música], sobre Aijelete Hashahar [A corça da manhã]’. Essa frase não é tão simples de ser traduzida. A palavra ‘músico-mor’ ou ‘mestre de música’ vem da raiz natsach que tem o sentido de conquistar e vencer. Por isso muitas versões gregas trazem diferentes títulos. A tradução de Teodócio diz, ‘Para a vitória’. A versão grega de Áquila diz, ‘Ao que dá a vitória’. O texto grego de Símaco traz, ‘A canção de vitória’.

A Septuaginta começa o Salmo 22 assim, ‘Para o fim, em relação a ajuda da manhã, um salmo de Davi’.

Para muitos esse salmo sempre foi um salmo de vitória, pois nele havia a certeza da salvação do Senhor.

Assim o título indica que o salmo é um louvor a Deus, Aquele que concede a vitória, pela ajuda dada ao amanhecer. É nesse contexto que devemos ler a frase, ‘Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?’(L. Paul Trudinger, ‘Eli, Eli, Lama Sabachthani?’, A cry of dereliction? Or Victory? - http://www.etsjets.org/files/JETS-PDFs/17/17-4/17-4-pp235-238_JETS.pdf).

O salmo 22 é um hino de agradecimento a Deus pela libertação do justo oprimido, depois da experiência mais profunda de sofrimento, o orante agradece pela ação salvadora de Deus em seu favor, vendo nela um sinal da chegada do reino de Deus, da conversão do mundo e da ressurreição dos mortos e prometendo que anunciará a ação salvadora de Deus às gerações futuras... Esse salmo manifesta, portanto, uma teologia apocalíptica, que vê na salvação de um indivíduo das angustias da morte, o sinal da vinda futura do reino de Deus.(Odilo P. Scherer, Justo sofredor - Uma interpretação do caminho de Jesus, Loyola, pg 101)

O grande problema com a interpretação das palavras de Jesus na cruz é que a maioria das pessoas não vai para o texto do Salmo 22, mas simplesmente tentam explicar o que Jesus está passando ignorando todo o contexto da passagem que Ele está citando.

Para entender o que Jesus disse é necessário prestarmos muita atenção na vida de Jesus e no Salmo 22!

Marcos e os outros evangelistas fazem questão de mostrar como o Salmo 22 é cumprido na morte de Jesus. Um aspecto muito importante desse salmo é que ele fala do Justo Sofredor. O Justo Sofredor dos Salmos é o mesmo que o Servo Sofredor de Isaias 53.

A ideia de um Messias Sofredor vem dos Salmos e do Servo Sofredor de Isaias!

Assim como Jesus vem mostrando que Ele é o Servo Sofredor de Isaias 53 Ele também é o Justo Sofredor dos Salmos, principalmente do Salmo 22.

SALMO 22 NA PAIXÃO
v.7 ---- Mc 15:29 Os que passavam lançavam-lhe insultos, balançando a cabeça
v.16 ---- Mc 15:25 O crucificaram (perfuraram as mãos)
v.18 ---- Mc 15:24 Dividindo as roupas dele, tiraram sortes para saber com o que cada um iria ficar.

O foco do Salmo 22 sempre foi a vitória que Deus concede ao Justo que aos olhos dos homens parece ter sido abandonado e amaldiçoado por Deus. Mas na verdade ele tem sido cuidado o tempo todo por Deus (22:24). Como consequência da salvação do justo, pessoas de outras nações viriam adorar ao Senhor (22:27-31 – gentios [o centurião] e ricos [José de Arimatéia]).

Quando o contexto do Salmo é levado em consideração o brado de Jesus tem um significado muito mais profundo! Passa de um grito de abandono desesperador para um brado de esperança na vitória que está por vir.

INTERPRETAÇÕES MAIS COMUNS DAS PALAVRAS DE JESUS EM MARCOS 15:34:

As interpretações mais comuns e mais divulgadas são que quando Jesus gritou "Eloí, Eloí, lamá sabactâni?"/"Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?":

1 – Jesus em sua humanidade se sentiu totalmente desamparado de Deus. Ele ficou confuso e aflito com todo o sofrimento que Ele estava passando. Aquele foi um ‘grito de abandono’, pois Ele se sentiu abandonado. O foco dessa interpretação está na humanidade de Jesus. Essa interpretação mostra um Jesus perdido, desamparado e sem saber o que está acontecendo.

2 – Jesus foi abandonado realmente pelo Pai naquela hora. Devido ao pecado que nEle havia sido imputado o Pai precisava virar a Sua face e Suas costas para o Filho e abandoná-lo naquela cruz por algumas horas. Essa interpretação também vê Jesus perdido, sem saber o que está acontecendo e tem dificuldade em explicar a situação da divindade de Jesus.

PROBLEMAS COM A INTERPRETAÇÃO QUE JESUS FOI ABANDONADO:

1 – Se Jesus gritou com Deus Pai então Jesus esqueceu que Ele havia vindo para morrer. Se Jesus citou o Salmo 22:1 com toda ‘sinceridade de coração’, então Ele havia perdido a noção do motivo da Sua vinda e morte. É de se estranhar que Jesus, que havia falado várias vezes da Sua morte e ressurreição e do propósito da Sua morte, de repente se esquecesse dela e tivesse que perguntar para o Pai.

Abandonado’ nos Salmos tem o mesmo sentido que ‘ser entregue nas mãos de homens perversos’. Jesus disse várias vezes que Ele seria ‘entregue’ (9:31;10:33). Seria estranho agora Ele ter se esquecido disso!

2 – As trevas já haviam acabado! Jesus bradou o Salmo 22 após a condenação. As Suas últimas palavras antes de morrer não soam como alguém abandonado: “Jesus bradou em alta voz: ‘Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito’. Tendo dito isso, expirou.(Lc 23:46)

3 – O maior problema fica com a questão trinitária. Deus é um. Como Ele se dividiu durante a crucificação? Como o Pai perdeu contato com o Filho? Como Deus que é um em essência se separou do Filho?

Por meio dessa interpretação os Arianos negaram a total divindade de Jesus (ver Anastásio de Alexandria, Apologia Contra Arianos 3.27).

Seja o que dissermos sobre o grito de abandono, nós não podemos dividir o Filho. Não é como se o Jesus humano estivesse clamando em desespero enquanto o divino Filho de Deus se alegra na Sua futura justificação. Esse grito é um grito de Jesus de Nazaré que era o Filho de Deus.(Peter Bolt, The Cross from a Distance, IVP, pg 136)

Muitos teólogos rejeitam a ideia de que Deus tenha sofrido na morte de Jesus alegando que foi na ‘carne’ que Jesus sofreu. Para eles Jesus só sofreu no corpo, na parte humana. O problema fica na dicotomia criada para com Jesus. Só um ser infinito poderia receber a punição infinita. Só um ser infinitamente santo poderia satisfazer a infinita santidade de Deus. Apesar de Jesus ter sido punido num corpo finito/mortal a pena foi aplicada em todo o eterno Filho de Deus.

UM BRADO DE VITÓRIA!
Como vimos o Salmo 22 sempre foi visto por muitos judeus e cristãos como o Salmo da Vitória, pois nele o Justo Sofredor é justificado e salvação é concedida a vários tipos de pessoas.

A Comunidade do Qumran (comunidade de judeus essênios da época de Jesus) via o Salmo 22 como um salmo escatológico de vitória. O Targum via o Salmo 22 como um salmo escatológico que falava das pessoas indo para Sião como em Isaias 2.

Naquele momento Jesus não está agindo como um homem cheio de temor clamando por uma resposta de Deus. Jesus não está perguntado nada para Deus!

As trevas já haviam cessado. Por isso Ele bradou em alta voz o primeiro versículo do Salmo 22. O Justo Sofredor já recebeu a injustiça, agora vem à recompensa! É como se Jesus estivesse proclamando que o Salmo 22, assim como Isaias 53, havia sido cumprido nEle. O Justo sofreu injustamente, mas Deus irá justificá-Lo!

POR QUE JESUS SÓ CITOU O VERSÍCULO 1?
Naqueles dias não havia capítulos e versículos na Bíblia, as pessoas citavam um trecho da passagem e já era implicado o texto todo.

Ninguém esperaria que uma vítima da crucificação recitasse um salmo todo, mas é possível que o citar do primeiro verso do salmo seria uma referência ao salmo todo. Visto que não havia capítulos e versos para identificar passagens específicas, palavras iniciais ou frases principais eram citadas [ver Mc 12:26]. Se esse é o caso aqui, Jesus ora as primeiras palavras desse salmo de lamento que, quando lido todo, expressa não só o amargo desespero mas também a suprema confiança. Essa interpretação não nega a angústia real que Jesus experimentou mas entende o Seu brado como uma expressão de confiança em Deus que irá intervir e vindicá-Lo.(Zondervan Illustrated Bible Backgrounds Commentary, Zondervan, pg 302)

Ao citar o primeiro versículo as pessoas refletiriam no Salmo 22 todo e não apenas nas palavras proferidas.

A primeira linha invocaria esse salmo todo do justo sofredor – e a sua esperança de uma vindicação divina.(Craig Keener, The IVP Bible Background Commentary NT, IVP, pg 181)

Hoje, as pessoas leem marcos 15:34 e ficam procurando um modo de conciliar o abandono de Jesus com a divindade dEle ou quão cabisbaixo e depressivo estava Jesus, quando o foco da passagem é a vitória que está por vir em meio as aflições.

Esse foi um brado de esperança e vitória! Tanto foi assim, que isso tocou o centurião (Mc 15:39).

A confissão do centurião faz muito mais sentido se o ‘grito’ de Jesus é triunfante ao invés de um grito desesperador de angustia final.(Beale and Carson, Commentary on the New Testament Use of the Old Testament, Baker, pg 237 [Rikk Watts em Marcos])

Não Jesus não morreu em desespero. Ele morreu com confiança que Seu Pai O vindicaria através da ressurreição. Ele morreu sabendo que Sua morte era uma morte redentora e vicária. Ele morreu sabendo que tudo estava de acordo com as Escritura. Em nenhum dos Evangelhos vemos Jesus morrendo como um desesperado. O Salmo 22 era um Salmo de Lamentação e esses salmos não eram salmos de desespero. Os Salmos de Lamento apontavam para uma maravilhosa esperança em meio aos sofrimentos. O salmista através desses salmos levava as pessoas a verem além das situações de sofrimento momentâneas, mostrando que Deus está sempre presente para socorrer o justo.

Jesus bradou, ‘Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?’ para revelar Sua esperança e confiança na vitória que Deus Pai e Deus Espírito estavam trazendo!

Para mais estudos ver:
http://www.leithart.com/2009/04/25/cry-of-dereliction/
http://www.ibr-bbr.org/files/bbr/BBR_1994_11_Schmidt-Mk15_34.pdf
http://www.etsjets.org/files/JETS-PDFs/17/17-4/17-4-pp235-238_JETS.pdf
http://rdtwot.files.wordpress.com/2012/05/watts_psalm-22-in-marks-passion-narrative.pdf
http://www.directionjournal.org/article/?1564

III – A PERVERSIDADE NO CALVÁRIO (VS.35-36)
35 Quando alguns dos que estavam presentes ouviram isso, disseram: "Ouçam! Ele está chamando Elias". 36 Um deles correu, embebeu uma esponja em vinagre, colocou-a na ponta de uma vara e deu-a a Jesus para beber. E disse: "Deixem-no. Vejamos se Elias vem tirá-lo daí".

v.35 Esses escarnecedores são judeus, pois mencionam Elias. Eles pervertem e zombam das palavras de Jesus.

Ouçam! Ele está chamando Elias” --- Isso é a mais pura zombaria.
Eles sabiam que o Salmo 22 implicava na salvação do justo, por isso eles mencionam Elias.

No judaísmo havia (e há ainda) a crença de que Elias vinha ajudar os que sofriam. De acordo com b.`Abod. Zar 17b o rabino Eleazar Ben Perata foi resgatado de um julgamento romano por Elias, que estava disfarçado de oficial romano. Visto que Elias foi levado vivo para o céu, ele podia voltar e ajudar os necessitados de acordo com a tradição judaica.

v.36Um deles correu, embebeu uma esponja em vinagre, colocou-a na ponta de uma vara e deu-a a Jesus para beber
A oferta da bebida é uma tentativa de manter Jesus vivo até que Elias apareça.

Não há nada de bondade nesse ato! É a mais pura zombaria.

Deixem-no. Vejamos se Elias vem tirá-lo daí” --- O sentido da frase é de deixá-los ver Elias aparecer. “Pedindo para os espectadores/soldados para deixar um espaço ao redor do Calvário para caso Elias decidisse intervir.(R.T. France, pg 654)

Esses homens perversos querem prolongar a morte de Jesus para que Ele possa ver Elias chegando.

** Através desta passagem podemos ver como o homem natural reage em meio aos tempos de aflição e tragédia. Quando as trevas vieram eles ficaram quietos, mas assim que o sol brilhou eles voltaram a insultar a Deus. O homem não-regenerado demonstra um certo temor e remorso durante as horas de dificuldades, mas assim que o sol começa a brilhar ele volta a mostrar Seu ódio para com Cristo [veja a reação de pessoas em acidentes e desastres].

** Se esses homens soubessem quão depravados eles eram, quão inimigos de Deus eles eram e quão necessitados da morte de Jesus eles eram, eles clamariam para que Jesus entregasse Sua vida o mais rápido possível – ao invés de tentar prolongá-la!

IV – O BRADO DE TRIUNFo (V.37)
37 Mas Jesus, com um alto brado, expirou.

v.27Mas Jesus, com um alto brado, expirou” --- ‘MAS JESUS’ --- Quão maravilhoso é o nosso Senhor, Ele não reagiu às provocações e zombaria. ‘MAS’ – A conjunção adversativa tem o sentido de um contraste. Enquanto eles zombam, Jesus se entrega como o fiel e justo Servo Sofredor!

com um alto brado” – (Gk. ἀφεὶς φωνὴν μεγάλην) – Esse relato mostra como Jesus tinha controle total dos Seus sentidos!

O QUE JESUS BRADOU EM ALTA VOZ?
João e Lucas nos relatam as maravilhosas palavras de Jesus antes de morrer:

A – “ESTÁ CONSUMADO (Jo 19:30 E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito)

Há muitas frases e palavras conhecidas mundialmente: ‘até tu Brutos?(Júlio César); ‘Terra à vista!’ (no descobrimento do Brasil); ‘Eureka’ (Arquimedes); ‘Ser ou não ser. Eis a questão’ (William Shakespeare); ‘Veni vidi vici/Vim, Vi, Venci(César); ‘Eu tenho um sonho(Martin Luther King); ‘Aqui me levanto, não posso fazer outra coisa, esta é a minha posição. Que Deus me ajude!(Martinho Lutero)

Mas nenhuma frase ou declaração é tão importante como essa proferida por Jesus na cruz!

Essa única palavra, que resume toda a vida e morte de Jesus, é a mais importante de toda a Bíblia.(William Mounce, Basics of Biblical Greek, Zondevan, pg 224)

As primeiras palavras de Jesus, quando Ele tinha por volta de 12 anos foram – Lc 2:49 E ele lhes disse: Por que é que me procuráveis? Não sabeis que me convém tratar dos negócios/estar na casa de meu Pai?
As últimas palavras de Jesus, mais ou menos, 20 anos mais tarde – Jo 19:30 Está consumado!

Ele não disse ‘Eu estou consumado!’, mas ‘Está Consumado!’. A obra que Ele veio fazer foi feita por completo! Mt 5:17 Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir - Todo o Antigo Testamento foi perfeitamente cumprido em Sua vida!

A obra do Pai foi completa e perfeitamente cumprida – Jo 17:4 Eu te glorifiquei na terra, completando a obra que me deste para fazer.

No Seu corpo a ira de Deus já havia sido apaziguada, Ele já havia sido feito maldição por Seu povo – Gl 3:13 Cristo nos redimiu da maldição da lei quando se tornou maldição em nosso lugar, pois está escrito: "Maldito todo aquele que for pendurado num madeiro".

Todas as profecias sobre a vida de Jesus já haviam sido cumpridas.

Não há uma só joia de promessa, desde essa primeira esmeralda que caiu no umbral do Éden, até a última pedra de safira de Maláquias, que não haja estado incrustada no peitoral do verdadeiro Sumo Sacerdote. E mais, não há nenhum tipo, desde a vaca alazã até a pomba, desde o híssopo até o próprio templo de Salomão, que não tenha se cumprido Nele; e nem uma só profecia, seja a que foi dada junto ao rio Quebar, ou nas margens do Jordão; nenhum sonho dos sábios, seja o que foi sonhado na Babilônia, ou na Samaria, ou na Judéia, que não haja sido concretizado com plenitude em Cristo Jesus.” (Spurgeon)

Não resta mais nada, absolutamente nada! O impossível foi feito (Mc 10:26-27)!

** Quão terrível é ver pessoas tentando se justificar e promover a salvação por meio dos próprios esforços!

A salvação foi feita possível, pois Jesus cumpriu toda a justiça. Todos os padrões e requerimentos desse Deus, que é totalmente santo e perfeito, foram consumados através da vida de Jesus – não foi por meio de Kardec, nem de Buda, nem de Gandhi, nem da Madre Teresa!

ESTÁ CONSUMADO’ (Gk. Τετέλεσται) – Toda a obra da redenção foi cumprida. Nada mais precisa ser feito. O verbo no Perfeito do Indicativo mostra que tudo foi perfeita e plenamente cumprido e que as consequências dessa obra perfeita se perpetuam. Os efeitos dessa obra majestosa ainda fluem para os que creem em Jesus!

Que brado de vitória! Que Vencedor Maravilhoso!

Jesus morreu com o brado de um Vitorioso em Seus lábios. Esse não é o gemido de um derrotado nem o suspiro de uma resignação paciente. É o reconhecimento triunfante de que Ele agora completou perfeitamente a obra que Ele veio realizar.(Leon Morris, NICNT – The Gospel According to John, Eerdmans, pg 720)

E uma vez que a obra da salvação foi perfeitamente realizada e PROCLAMADA a todos, Jesus faz Sua última declaração:
B –“PAI, NAS TUAS MÃOS ENTREGO O MEU ESPÍRITO” - (Lc 23:46 Jesus bradou em alta voz: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito". Tendo dito isso, expirou)

Aqui Jesus citou o Salmo 31:5, mais um salmo sobre o Justo Sofredor! Esse salmo era recitado no fim da tarde como parte da oração. Os judeus pediam a proteção de Deus durante o sono. Aqui, Jesus antes de ‘dormir’ declara Sua confiança no Senhor!

O salmo é usado aqui tipologicamente. Jesus é o justo sofredor por excelência.(Zondervan Illustrated Bible Backgrounds Commentary, Vol I, pg 495)

O Salmo 31 fala de Davi como um escravo/servo (v.16), sofredor e justo (v.18). Isso nos lembra do Servo Sofredor de Isaias 53. Tanto o Justo Sofredor dos Salmos como o Servo Sofredor de Isaias, que são profecias sobre o Messias, são vindicados e justificados por Deus.

*** Em todos os momentos Jesus se mostrou Vitorioso, Triunfante e cheio de Esperança!

NÃO TIRARAM A SUA VIDA, MAS ELE A ENTREGOU:

Marcos 15:37 – Após o alto brado de que a obra foi consumada e a declaração de que Jesus tinham total confiança na justiça de Deus: “ele expirou” – (GK. ἐκπνέω) A palavra grega tem o sentido de colocar o espírito para fora [ek – fora / pneuma – espírito] – sinônimo de ‘morrer’.

O verbo está na voz ativa na terceira pessoa do singular masculino enfatizando que foi Ele mesmo quem entregou a Sua vida! Não tiraram dEle, mas Ele entregou a Sua vida por pecadores, pelos piores dos pecadores Ele se entregou!

Muitas pessoas tentam explicar a morte de Jesus como sendo por asfixia, mas a verdade é que Ele entregou a Sua própria na hora que Ele quis. Por isso Pilatos ficou impressionado com a rapidez da morte (Mc 15:44).

Jo 10:17-18 Por isso é que meu Pai me ama, porque eu dou a minha vida para retomá-la. 18 Ninguém a tira de mim, mas eu a dou por minha espontânea vontade. Tenho autoridade para dá-la e para retomá-la.

Is 53:12 Por isso eu lhe darei uma porção entre os grandes, e ele dividirá os despojos com os fortes, porquanto ele derramou (na LXX paredoken - entregou) sua vida até à morte, e foi contado entre os transgressores.

Aqui vemos, mais uma vez, a soberania de Jesus em toda a Sua morte! Tudo foi perfeitamente planejado e orquestrado para esse momento único na história da redenção!

Que ninguém tenha a visão de Jesus de como um ‘coitado’, vítima de suas ideologias e do fracasso dos homens em compreendê-Lo! Triste coisa é ver Jesus morrendo no filme do Mel Gibson, A Paixão de Cristo, pois aquele filme mostra um Jesus conquistado e perdido, enquanto os Evangelhos mostram um Jesus Triunfante e Conquistador – Aquele que venceu tudo e todos!

A MORTE DO SOBERANO:
Jo 19:30 E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.

A expressão ‘inclinando a cabeça’ (καὶ κλίνας τὴν κεφαλὴν) tem o sentido de uma morte pacifica, a morte de alguém que confia em Deus! As pessoas que morriam na cruz se contorciam, gritavam, se exaltavam, mas Jesus simplesmente inclina a cabeça e entrega Seu espírito.

Mt 8:20 E disse Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça (τὴν κεφαλὴν κλίνῃ).
É na cruz que Jesus encontra o Seu lugar para reclinar a cabeça e descansar das obras! É na cruz que nós encontramos a morte (do nosso velho homem) e ao mesmo tempo o descanso!

Essa frase em Marcos 15:37 pode ser trocada por, ‘COM UM BRADO DE TRIUNFO JESUS ENTREGOU A SUA VIDA!’.

O que Ele havia falado tantas vezes agora ocorre: a morte do Salvador! Aqui temos a morte física do Deus encarnado! Todo o Antigo Testamento apontava para esse exato momento, o momento em que o Deus encarnado morreu pelo Seu povo!

Que morte magnífica!

Jesus morreu! Isso não é a morte de um homem – que você não veja a morte de Jesus como a morte de Buda, Gandhi, Maomé ou qualquer outro líder religioso!

Essa foi a morte do Deus que se encarnou e viveu e sofreu entre nós!

Foi para isso que Ele havia nascido! Ele nasceu para morrer, para que todo aquele que nEle crer não morra, mas tenha vida eterna!

CONCLUSÃO:

Que possamos meditar, proclamar e sonhar com a afirmação: ‘Está Consumado!’

A transação foi feita, o preço foi pago! A punição foi imposta sobre Ele, e a ira foi apaziguada! Os nossos trapos de justiças foram trocados por mantos de santidade!
Agora a dívida havia sido saldada até o último centavo. A expiação e a propiciação foram feitas de uma vez por todas e para sempre, por meio dessa única oferta feita no corpo de Jesus no madeiro. Ali estava a copa; o inferno estava nela; o Salvador a bebeu: não deu um trago e logo uma pausa; não deu um sorvo e logo um descanso. Não. Ele a esgotou até que não ficou nem um só resíduo correspondente a alguém de Seu povo. O grande chicote de dez correias da lei foi gasto em Suas costas; não ficou nenhum flagelo para golpear a alguém por quem Jesus morreu. O grande bombardeio da justiça de Deus utilizou todas suas munições; não fica nada que possa ser lançado contra um filho de Deus. Oh justiça, tua espada está embainhada! Teu trovão está silenciado, oh Lei! Agora não fica nada de todas as aflições, e dores, e agonias que deveriam ter sofrido por seus pecados os pecadores escolhidos, pois Cristo suportou tudo por Seus próprios amados, e ‘está consumado’.” (Spurgeon)

Como não declarar tão grande amor demonstrado na vida e morte de Jesus? Como não pregar para os que caminham para o inferno tentando produzir uma justiça própria que tudo já foi consumado?

Filhos de Deus, vocês que por fé receberam a Cristo como seu tudo em tudo, proclamem a cada dia de suas vidas que ‘Está consumado’. Vão e digam a quem está torturando a si mesmo, pensando em dar satisfação por meio de obediência e mortificação. Aquele hindu que está ali, está a ponto de jogar-se sobre os pregos. Pare, pobre homem! Por que terias de sangrar? Pois, ‘Está consumado’. Aquele faquir está segurando sua mão ereta até que os cravos transpassem sua carne, torturando-se com jejuns e privações. Pare, pare, pobre desgraçado, deixe todas essas dores, pois ‘Está consumado’. Em todas as partes da terra há quem pensa que a miséria do corpo e da alma pode ser uma expiação pelo pecado. Corra para eles, detenha-os de sua loucura e digam-lhes: ‘Por que fazes isto? ‘Está consumado’.’ Cristo sofreu todas as dores que Deus exige; toda a satisfação que demanda a lei por meio da agonia da carne, Cristo já sofreu. ‘Está consumado!’ E quando tenham feito isto, busquem em seguida aos ignorantes cumpridores de votos de Roma. Quando vejam os sacerdotes dando às costas ao público, oferecendo a cada dia o pretendido sacrifício da missa, e levantando a hóstia para o alto – um sacrifício, dizem – ‘um sacrifício sem sangue para os vivos e os mortos,’ clamem: detenha-te, falso sacerdote, detenha-te! Pois, ‘Está consumado’. Pare, falso adorador, pare de inclinar-te, pois ‘Está consumado’! Deus não pede nem aceita nenhum outro sacrifício além daquele que Cristo ofereceu de uma vez por todas sobre a cruz.” (Spurgeon)

Aos Espíritas digam, ‘Está Consumado!’ Aos Adventistas digam, ‘Está Consumado!’ Aos Judeus digam, ‘Está Consumado!’

Como não sermos gratos por tão grande morte?!

Jo 19:30 E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.

Está consumado! Não tem nada que o homem possa fazer para conseguir méritos e se auto justificar diante de Deus. A única coisa que Deus requer de Seu povo é fé em Jesus como o único e perfeito Mediador entre Deus e o homem, e arrependimento! E até mesmo esses dois requerimentos são dons dEle.

Mas que tipo de deus era proclamado entre os cristãos? Um deus que na verdade morreu? Pior, um deus que morreu numa cruz! Não é de se estranhar que o grafite do segundo século encontrado em uma parede tivesse um homem crucificado com a cabeça de um burro!... De que proveito é um deus que permite ser morto, principalmente a morte na cruz? Que tipo de deus faria isso? Que tipo de deus é esse?... Na pessoa do Filho, Deus se fez carne e sangue, e ajuntou todos os nossos gritos de abandono. E mais! Ele não só compartilhou das nossas experiências comuns de abandono nesse mundo que está sob a sombra da morte. Lá, na cruz, na pessoa do Filho, o próprio Deus suportou a ira de Deus – no nosso lugar! Deus fez o impossível (Mc 10:26-27). Deus pagou o resgate para nos libertar do julgamento da morte (10:45), e ao fazer isso Ele concedeu imortalidade à nós, mortais. Numa cruz repulsiva... Deus se aproximou.(Bolt, pgs.144-145)

Mc 10:45 – O Filho do Homem veio dar Sua vida em resgate (preço pago para comprar/libertar um escravo) por muitos!
A compra foi feita! A transação foi concretizada – fomos comprados por Deus e para Deus.
Como podemos servir de forma tão medíocre um Senhor que investiu tanto nessa compra? Investiu Seu próprio sangue (At 20:28)! Como sermos escravos tão ingratos, quando o preço pago foi tão alto?

Rm 5:10 Se quando éramos inimigos de Deus fomos reconciliados com ele mediante a morte de seu Filho, quanto mais agora, tendo sido reconciliados, seremos salvos por sua vida!
Como ser amigos tão superficiais, quando a inimizade foi quebrada através de uma morte tão profunda? Como podemos ser amigos tão fiéis do mundo e tão infiéis com Deus, quando Ele proporcionou a amizade quando éramos Seus inimigos?

Hb 2:14-15 ele também participou dessa condição humana, para que, por sua morte, derrotasse aquele que tem o poder da morte, isto é, o diabo, 15 e libertasse aqueles que durante toda a vida estiveram escravizados pelo medo da morte.
Como temer a morte quando ela foi conquistada na morte do meu Senhor? Como não perder minha vida para o Senhor por medo da morte, quando a morte foi destruída e se tornou a estrada para a eternidade.

Que profunda, maravilhosa, misteriosa, amorosa e grandiosa foi a morte de Jesus!
Agradecemos-Te pela cruz!

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