Marcos 14:60-65 - O Julgamento de Jesus: Parte III

Série de Sermões em Marcos Passagem: Marcos 14:60-65 Título: O Julgamento de Jesus: Parte III Pregado na manhã de Domingo, do dia 03 de junho de 2012, na Igreja Reformada em Campinas Soli Deo Gloria,  por Gustavo Barros

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Marcos 14:60-65 60 Depois o sumo sacerdote levantou-se diante deles e perguntou a Jesus: "Você não vai responder à acusação que estes lhe fazem?" 61 Mas Jesus permaneceu em silêncio e nada respondeu. Outra vez o sumo sacerdote lhe perguntou: "Você é o Cristo, o Filho do Deus Bendito?" 62 "Sou", disse Jesus. "E vereis o Filho do homem assentado à direita do Poderoso vindo com as nuvens do céu". 63 O sumo sacerdote, rasgando as próprias vestes, perguntou: "Por que precisamos de mais testemunhas? 64 Vocês ouviram a blasfêmia. Que acham?" Todos o julgaram digno de morte. 65 Então alguns começaram a cuspir nele; vendaram-lhe os olhos e, dando-lhe murros, diziam: "Profetize!" E os guardas o levaram, dando-lhe tapas.

Introdução & Contextualização:

O primeiro ‘julgamento’ foi diante de Anás (Jo 18:19-24). Após ser questionado ilegalmente e sofrer abusos físicos, Jesus foi entregue ao sumo sacerdote oficial, Caifás (Jo 18:23-24; Mc 14:53).

Esse julgamento diante de Caifás é um show de injustiça. Falsas testemunhas e falsos testemunhos reinam no palácio do sumo sacerdote. Aquele lugar que deveria ser um lugar de refúgio e justiça se tornou um covil de mentiras e injustiça.

Jesus está dentro do covil, cercado por lobos ferozes que querem a Sua morte a qualquer custo!

O Cordeiro estava calado diante de todas as falsas acusações e humilhação. Porém, agora Ele abre a Sua boca e de Sua boca sai uma espada de dois gumes que fere todos que estavam naquela sala.

Estamos diante de uma das passagens mais importantes de toda a Escritura. As palavras de Jesus e as ações que ocorrem no palácio do sumo sacerdote revelam de forma completa quem realmente é esse Jesus de Nazaré!

Divisão do Estudo:

I – AS PERGUNTAS DO SUMO SACERDOTE (VS.60-61)

II – A RESPOSTA DE JESUS (V.62)

iii – a reação dos líderes de israel (vs.63-65)

I – As perguntas do sumo sacerdote (VS.60-61)

60 Depois o sumo sacerdote levantou-se diante deles e perguntou a Jesus: "Você não vai responder à acusação que estes lhe fazem?" 61 Mas Jesus permaneceu em silêncio e nada respondeu. Outra vez o sumo sacerdote lhe perguntou: "Você é o Cristo, o Filho do Deus Bendito?"

Após uma série de falsas acusações sem coerência, os líderes de Israel conseguiram duas falsas testemunhas que mentiram sobre uma suposta alegação de Jesus de que Ele destruiria e reconstruiria o templo em Jerusalém.

Em nenhum momento do ministério de Jesus nós temos o relato de tais palavras.

O que eles fizeram foi perverter as palavras de Jesus narradas em João 2:18-19.

Essa acusação contra Jesus tinha implicações messiânicas. Essa acusação é uma maneira bem indelicada e ‘feroz’ de acusar Jesus de ser um falso Messias.

O julgamento está sendo como um espetáculo de circo. Vários homens entraram naquele ‘tribunal’ e trouxeram falsas acusações que não eram coerentes. Após muitas tentativas, a liderança de Israel conseguiu dois homens que, apesar de não terem sido totalmente coerentes, trouxeram uma acusação que servirá como alicerce da condenação.

Diante de todas as falsas acusações, Jesus permaneceu em silêncio. Em nenhum momento Ele levantou a voz, discutiu ou revidou os insultos recebidos.

E o silêncio do nosso Salvador irritou e ofendeu a liderança de Israel, principalmente o sumo sacerdote.

Que silêncio poderoso!

Um silêncio que revelou a sabedoria de Jesus [Pv 23:9 Não fales ao ouvido do tolo, porque desprezará a sabedoria das tuas palavras].

Um silêncio que revelou que Jesus realmente havia se entregado à vontade soberana do Pai [I Pe 2:22-23 22 "Ele (cristo) não cometeu pecado algum, e nenhum engano foi encontrado em sua boca". 23 Quando insultado, não revidava; quando sofria, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga com justiça].

Um silêncio de condenação!

Um silêncio que mostrava que Jesus era verdadeiramente o Servo Sofredor [Is 53:7 Ele foi oprimido e afligido, contudo não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado para o matadouro, e como uma ovelha que diante de seus tosquiadores fica calada, ele não abriu a sua boca].

v.61 - Outra vez o sumo sacerdote lhe perguntou: "Você é o Cristo, o Filho do Deus Bendito?"

“OUTRA VEZ O SUMO SACERDOTE LHE PERGUNTOU” – Caifás está profundamente irritado com Jesus. O silêncio de Jesus diante de todas aquelas falsas acusações era para o sumo sacerdote uma agressão profunda.

O modo que Caifás questiona Jesus requer uma resposta do nosso Salvador: Mt 26:63  Mas Jesus permaneceu em silêncio. O sumo sacerdote lhe disse: "Exijo que você jure pelo Deus vivo: se você é o Cristo, o Filho de Deus, diga-nos".

“Você é o Cristo, o Filho do Deus Bendito?” (Gk. σὺ εἶ ὁ χριστὸς ὁ υἱὸς τοῦ εὐλογητοῦ)

Esses dois títulos foram cuidadosamente preservados do público durante todo o ministério de Jesus.

“CRISTO” (Gk. χριστὸς) – Esse título é sinônimo de messias (hebraico – o ungido) e refere, em especial, ao tão esperado descendente de Davi que voltaria a dominar e reinar Israel com justiça (II Sm 7).

“o Filho do Deus Bendito” – No texto grego encontramos apenas ‘do Bendito’. Bendito era um termo normalmente usado para Deus já que era blasfêmia pronunciar o nome YHWH.

A pergunta que Caifás faz agora tem por objetivo a auto condenação de Jesus. Ele sabe que Jesus tem agido como o Messias – as ações e ensinos provaram que Jesus era o Cristo.

“Na mente das pessoas o título Cristo implicava na esperança de um libertador que viria da família de Davi e que livraria o povo de Israel. Ao levar Jesus para esse caminho, Caifás está tentando fazer com que Jesus se auto condene diante do governo romano, assim Caifás poderá levar Jesus justamente a Pilatos com a acusação de que Jesus é um rebelde.” (Zondervan Illustrated Bible Backgrounds Commentary – Vol I, Zondervan, pg 169)

“Um Messias preso, abandonado pelos seus seguidores e entregue indefeso nas mãos de seus inimigos representava uma concepção impossível de um messias. Qualquer pessoa que, em tais circunstâncias, proclamasse ser o Messias não poderia deixar de ser um blasfemador que se atreveu a fazer uma paródia das promessas dadas por Deus ao seu povo.” (http://www.soniclight.com/constable/notes/pdf/mark.pdf)

Caifás usa esses dois títulos para que não haja dúvida que tipo de Messias Jesus estava declarando ser. “Jesus não é simplesmente questionado se Ele é um ‘Messias Filho de Davi’, mas se Ele é o ‘Messias Filho de Deus’, um conceito novo e perturbador, que introduzia uma ideia de divindade.” (R.T.France, NIGTC in Mark, Eerdmans, pg 610)

“Apesar das diferenças de expectativa, os líderes judeus não podiam condenar automaticamente cada pretenso candidato a messias, caso contrário nunca teriam um Messias! Mas, a seus olhos, quem se associasse assim, de forma tão íntima a Deus Pai, cometia blasfêmia e merecia a morte.” (Craig Blomberg, Jesus e os Evangelhos, Vida Nova, pg 446)

Ao perguntar se Jesus é o Cristo, Caifás está procurando provas para entregar Jesus a Pilatos como um rebelde que quer acabar com a pax romana.

Ao perguntar se Jesus é o Filho do Bendito, Caifás está procurando provas para condenar Jesus diante dos judeus como um blasfemador, pois era impossível aos olhos deles que Jesus fosse divino.

II – A resposta de jesus (V.62)

62 "Sou", disse Jesus. "E vereis o Filho do homem assentado à direita do Poderoso vindo com as nuvens do céu".

Prestemos atenção em tais palavras, pois elas são barras de ouro puro dentro do tesouro do Evangelho do Reino de Deus!

Essas palavras de Jesus revelam que Ele só podia ser: 1) mentiroso; 2) maluco; ou 3) divino.

Não tem como ouvir essas palavras e argumentar que Jesus foi apenas um grande mestre de éticas, ou apenas um grande líder religioso!

A reposta de Jesus é dividida em duas partes:

1° - A CONFIRMAÇÃO E O FIM DO SEGREDO!

"EU Sou", disse Jesus (Gk. ὁ δὲ Ἰησοῦς εἶπεν ἐγώ εἰμι)--- Não sabemos se essa resposta é uma referência ao nome de Deus encontrado em Êxodo 3:14 [ver também Is 43:10,13], ou se é apenas uma resposta idiomática para a pergunta, ‘você é?’. 

Aqui Jesus declara pela primeira vez publicamente e diante da liderança de Israel o que Ele havia ocultado por meio de declarações.

“Com esse verso nós chegamos ao ápice cristológico do evangelho.” (R.T.France, NIGTC in Mark, Eerdmans, pg 610)

Um dos temas mais conhecido no livro de Marcos é o chamado ‘Segredo Messiânico’:

Jesus proibiu os demônios de falarem (1:25,34;3:12). Os que foram curados foram proibidos de falar (1:43-45; 5:43; 7:36; 8:26). Após a confissão de Pedro, Jesus pede por silêncio (8:29-30). Ele se escondeu das pessoas (7:24;9:30-31). Usou parábolas para evitar o entendimento de Seus ensinos (4:10-13). Isso tudo deixa claro que Jesus manteve um segredo messiânico.

O motivo para esconder e mascarar por tanto tempo a proclamação da verdade de que Jesus era o tão esperado Messias era para permitir que Jesus pudesse cumprir todo o Seu ministério! Jesus precisava se locomover e cumprir toda a Escritura, se Ele tivesse proclamado publicamente desde o início de Seu ministério, Jesus provavelmente teria morrido antes do tempo.

Após todo o esforço de silenciar as pessoas e os discípulos, aqui Jesus declara publicamente quem Ele é! Que ninguém os engane, pois Jesus proferiu com Seus próprios lábios ser divino e ser o tão esperado Redentor!

O cabeçalho de Marcos nos informava isso (1:1), mas agora é o nosso Senhor quem afirma essa verdade.

“O tempo de encobrir chegou ao fim e a verdade deve ser declarada firme e abertamente diante daqueles que se colocaram como juízes sobre Ele.” (R.T.France, NIGTC in Mark, Eerdmans, pg 611)

O mais lindo de tudo é que mostra o quão corajoso é o nosso Senhor. Ele fala publicamente pela primeira vez, não diante de uma pequena multidão na região da Galiléia, mas diante da liderança de Israel em Jerusalém!

Ele coloca sobre a mesa a carta da morte! Ele sabe que essa resposta vai abrir a porta para a Sua crucificação.

Ele não só diz ‘Eu sou’. Jesus vai mais fundo e proclama ter outros aspectos messiânico que eles esqueceram:

2° (parte da resposta) – O VERDADEIRO MESSIAS!

"E vereis o Filho do homem assentado à direita do Poderoso vindo com as nuvens do céu"

Precisamos prestar muita atenção nessa afirmação de Jesus, pois, se quando Ele afirmou ser o Cristo, o Filho de Deus, Jesus ‘abriu o Seu próprio túmulo’, agora, com essa afirmação, Ele sela a Sua morte. O que Jesus diz aqui gera tanta ira e indignação que faz com que Caifás rasgue as suas veste e profira as seguintes palavras, “Por que precisamos de mais testemunhas?”.

Jesus não pede silêncio agora, mas vai fundo, desembrulha e desvenda o que Ele afirmou ser. Ele deixa claro quem esses homens estão matando.

Jesus deixa claro quem Ele realmente é e quem as pessoas que O negam estão negando!

Esses homens conheciam o Antigo Testamento. Jesus usa duas passagens muito conhecidas do Antigo Testamento para proclamar quem Ele é verdadeiramente!

Aqui Jesus combina Daniel 7 (ver vs.8-14) com o Salmo 110. Dois textos repletos de conteúdo messiânico!

UMA PROFECIA FUTURÍSTICA?

62 "Sou", disse Jesus. "E vereis o Filho do homem assentado à direita do Poderoso vindo com as nuvens do céu".

Muitos interpretam essas palavras do nosso Senhor como sendo uma referência à Sua Segunda Vinda. Mas será que isso é uma profecia da Segunda Vinda de Jesus?

Jesus prometeu que aqueles homens (líderes de Israel) veriam logo a ‘vinda do Filho do Homem’.

Mt 26:64 digo-vos, porém, que vereis em breve o Filho do homem assentado à direita do Poder, e vindo sobre as nuvens do céu.

Lc 22:69 Desde agora o Filho do homem se assentará à direita do poder de Deus.

France, em seu comentário, deixa claro que Jesus estava falando que a liderança de Israel é quem veria Ele nas nuvens, assentado à direita de Deus. “A visão será para aqueles que estão escutando Jesus falar, e não para uma futura geração... é apenas o pressuposto errado de que estas palavras têm a ver com a parousia que leva alguém a pensar o contrário.” (R.T.France, NIGTC in Mark, Eerdmans, pg 611)

Como vimos em 13:26 e 30, Jesus prometeu que aquela geração veria o cumprimento de Daniel 7. Agora o nosso Senhor reafirma aquela verdade, mostrando que os líderes de Israel fazem parte da geração e verão o cumprimento.

Alegar que Jesus está falando de Sua Segunda Vinda é fazer de Jesus um mentiroso e deturpar o significado da passagem em Daniel 7! Pois aqueles homens morreram e não viram a Segunda Vinda de Jesus.

"E vereis o Filho do homem assentado à direita do Poderoso vindo com as nuvens do céu"

‘E vereis’  -- Na profecia de Daniel 7 foi o próprio profeta quem viu (7:13), mas aqui Jesus muda para a segunda pessoa do plural.

O que Daniel viu como uma visão profética, Jesus promete que aqueles homens verão o cumprimento!

“e vereis O FILHO DO HOMEM” --- Jesus volta a usar Seu título favorito. Esse é o título mais usado por Jesus. É um título que vem de Daniel 7 e está relacionado à autoridade, poder, honra, vindicação e divindade.

“e vereis o Filho do Homem ASSENTADO À DIREITA DO PODEROSO”

Aqui Jesus interpreta o Salmo 110.

Nessa frase encontramos:

1 – O título mais usado pelo próprio Jesus para se referir ao Seu ofício de Messias. O título Filho do Homem é usado por volta de 80 vezes no Novo Testamento.

2 – O salmo mais citado em todo o Novo Testamento. O Salmo 110:1 é a passagem mais usada do Antigo Testamento pelos autores do Novo Testamento.

“e vereis o Filho do Homem assentado à direita do poderoso VINDO COM AS NUVENS DO CÉU” --- Aqui Jesus volta para a profecia de Daniel 7. As nuvens do céu representam a glória de Deus, a aceitação de Deus e a autoridade divina. Só Deus andava nas nuvens (Sl 104:3; Is 19:1).

Jesus não está focando na ordem cronológica, mas na concretização de duas importantes e tão conhecidas passagens do Antigo Testamento.

“O problema é agravado se o ‘vindo’ é interpretado como uma vinda para a terra, mas já que não é isso o que Daniel e nem Marcos dizem, nós não precisamos focar nessa falácia... o problema todo é levantado devido ao fracasso de interpretar metáforas que são familiares do Antigo Testamento... As duas passagens expressam através de suas distintas maneiras o mesmo conceito de uma autoridade divina. Dn.7:13-14 é, em outras palavras, um oráculo de entronização assim como Sl.110:1, e é esse domínio universal e eterno que Jesus aqui declara que receberá – e eles verão isso.” (R.T.France, NIGTC in Mark, Eerdmans, pg 612)

Como vimos em Marcos 13, a ‘vinda do Filho do Homem’ se refere à passagem em Daniel 7, quando Daniel viu o Messias vindo para o céu. O ‘vindo nas nuvens’ é uma citação de Daniel 7:13.

Jesus interpreta o Salmo 110 à luz de Daniel 7 e à luz de Sua ascensão.

O segundo ‘Senhor’ do Sl 110:1 é o Filho do Homem de Dn 7:13 – que é Jesus. Os tronos que foram colocados (Dn 7:9) eram os tronos do Senhor Deus e o trono do Senhor Jesus.

O justo e poderoso Ancião dos Dias (Dn 7:9), que é o primeiro Senhor de Sl 110:1, recebe o Filho do Homem – que veio nas nuvens [revelando que Ele foi aceito por Deus e vem nas nuvens como o próprio Deus]. Os portais do céu são abertos para que o Rei da glória entre (Sl 24:7-10) e o Senhor, que é o Ancião, tem os tronos preparados e declara, “Senta-te à minha direita” (Sl 110:1).

Jesus então se assentou à direita do Poderoso Deus e recebeu dEle o cetro de justiça (Sl 110:1-2) e passa a dominar e reinar todo o universo. É exatamente isso o que ocorreu em Sua exaltação (Cl 2:10 Pois em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade, e, por estarem nele, que é o Cabeça de todo poder e autoridade, vocês receberam a plenitude;I Pe 3:22 O qual está à destra de Deus, tendo subido ao céu, havendo-se-lhe sujeitado os anjos, e as autoridades, e as potências).

O Salmo 110 revela que o Senhor que se assenta à direita de Deus recebe:

1 – Poder (vs.1-2); 2 – Autoridade (v.3); 3 – Sacerdócio Eterno (v.4); 4 – Autoridade para Julgar (v.6).

Vejamos porque as palavras de Jesus despertaram tanta ira:

1 – Sl 110 e Dn 7 enfatizam o dia em que Deus concederia um status extraordinário para o Seu agente. Jesus afirma ser esse agente que recebe o trono, poder e autoridade. Aquele rabino da Galiléia se declarou ser o super-homem do Sl 110 e Dn 7.

2 – Jesus se encontra na sala de julgamento. Dn 7 fala de uma corte de julgamento em que o Filho do Homem se assenta para julgar. O Sl 110:6 diz que Ele recebe autoridade para julgar. Jesus está dizendo que aqueles homens que O estão julgando serão julgados por Ele!

“Jesus está declarando ser o Juiz daqueles que se assentaram para julgá-Lo.” (http://www.soniclight.com/constable/notes/pdf/mark.pdf)

3 – Mais uma pitada de pimenta é jogada nos os olhos da liderança de Israel. O Sl 110:4 diz que há uma mudança de sacerdócio, e aquele que se assenta à direita de Deus passa a ser o supremo e eterno sumo sacerdote. As palavras de Jesus implicam que eles serão tirados do poder e aquele rabino da Galiléia será estabelecido como o novo sumo sacerdote!

4 – “Jesus não só se coloca no status mais alto possível de se chegar, mas também coloca seus inimigos como inimigos de Yahweh... como a besta que profana e assassina em Dn 7, implicando que o sumo sacerdote é o pequeno chifre que blasfema e guerreia contra os santos.” (Beale and Carson, Commentary on the New Testament Use of the Old Testament, Baker, pg 234)

Quão preciosa e provocativa é essa resposta de Jesus!

Por isso não estranhamos a reação da liderança de Israel!

III – a reação dos líderes de israel (VS.63-65)

63 O sumo sacerdote, rasgando as próprias vestes, perguntou: "Por que precisamos de mais testemunhas? 64 Vocês ouviram a blasfêmia. Que acham?" Todos o julgaram digno de morte. 65 Então alguns começaram a cuspir nele; vendaram-lhe os olhos e, dando-lhe murros, diziam: "Profetize!" E os guardas o levaram, dando-lhe tapas.

A resposta de Jesus foi um golpe fatal. Os líderes de Israel não conseguem conter a raiva e a ira para com Jesus e começam a agredi-Lo de forma bruta e covarde.

Vejamos que há um progresso na reação dos líderes de Israel:

1 – O RASGAR DAS ROUPAS (v.63):

A primeira reação começa com o sumo sacerdote. Ele usa um gesto dramático para mostrar quão abominável é aquela declaração.

De acordo com as leis do Mishná, os juízes deveriam rasgar as vestes diante de blasfêmia.

O rasgar as vestes é uma ação dramática que simboliza tristeza (Gn 37:29 e 34; Js 7:6), indignação e reprovação (II Re 18:37; At 14:14).

Assim como o sumo sacerdote rasga as suas vestes reprovando e rejeitando Jesus, o véu do templo será rasgado como um sinal da rejeição de Deus para com aquele lugar!

Assim como eles rasgaram as vestes demonstrando total dissociação com Jesus, Deus rasgou o véu do templo, mostrando Sua dissociação da religião deles.

2 – CONDENAÇÃO VERBAL (v.64):

Jesus é condenado por blasfêmia! Eles veem Jesus como um mentiroso.

Qual a blasfêmia em específico pela qual Jesus é condenado é muito difícil de saber.

Provavelmente a alegação de que Ele sentaria à direita de Deus que é a mais pesada das acusações (ver At 7:56-58).

Jesus disse que Ele julgaria aqueles homens e que eles seriam tirados dos seus ofícios. Os oficiais viram essa declaração de Jesus como uma maldição contra eles, baseado em Êxodo 22:28 (Não blasfemem contra Deus nem amaldiçoem uma autoridade do seu povo).

Jesus declarou ser divino e isso é considerado como blasfêmia perante a liderança de Israel.

v.64  Vocês ouviram a blasfêmia. Que acham? Todos o julgaram digno de morte.

Blasfêmia recebia a punição da pena de morte através de apedrejamento [Lv 24:13-16 13 Então o Senhor disse a Moisés: 14 "Leve o que blasfemou para fora do acampamento. Todos aqueles que o ouviram colocarão as mãos sobre a cabeça dele, e a comunidade toda o apedrejará. 15 Diga aos israelitas: Se alguém amaldiçoar seu Deus, será responsável pelo seu pecado; 16 quem blasfemar o nome do Senhor terá que ser executado. A comunidade toda o apedrejará. Seja estrangeiro, seja natural da terra, se blasfemar o Nome, terá que ser morto].

Mas os romanos tiraram o poder de execução das mãos dos judeus (as execuções realizadas, como com Estevão, eram consideradas como linchamentos ultra vires [sem autorização]). “Em uma corte romana, a blasfêmia, como era entendida pelos judeus, não era considerada digna de pena de morte, mas a declaração pública de Jesus que Ele é o Cristo providenciou fundamento para uma acusação que pode soar como traição política.” (R.T.France, NIGTC in Mark, Eerdmans, pg 616)

“Todos o julgaram digno de morte” – Toda religião que nega a divindade e o papel messiânico de Jesus acabam considerando-O um blasfemador!

3 – AGRESSÃO FÍSICA (v.65):

v. 65 Então alguns começaram a cuspir nele; vendaram-lhe os olhos e, dando-lhe murros, diziam: "Profetize!" E os guardas o levaram, dando-lhe tapas.

A agressão começa a aumentar e, após chamá-Lo de mentiroso, agora eles começam a agredi-Lo fisicamente.

a – CUSPIR – Até hoje essa é uma das ações mais baixas e nojentas que alguém pode cometer. Cuspir em alguém é um símbolo universal de desprezo, rejeição e insulto.

Dt 25:9 nos mostra que esse gesto era realizado em corte para trazer vergonha e humilhação ao acusado.

Eles têm nojo de Jesus! Eles odeiam Jesus!

b – VENDAR OS OLHOS – Após cuspir, eles vendam os olhos de Jesus como um meio de zombaria. Não é só zombaria, mas covardia, pois eles agridem um homem que está amarrado e com os olhos vendados.

Eles fazem de Jesus o que os filisteus fizeram de Sansão. Eles agem como os seus inimigos.

c – MURROS (Gk.  κολαφίζω) – A covardia se intensifica a cada segundo. A ira e o ódio por Jesus transbordam. A violência se intensifica e agora eles dão murros em Jesus. A palavra implica no uso de murros com o punho. Murros e socos violentos.

v.65 vendaram-lhe os olhos e, dando-lhe murros, diziam: "Profetize!"

Ao vendar os olhos de Jesus e ordenar que Ele profetize, a liderança de Israel estava zombando de Jesus como o Messias.

Era dito no judaísmo que o Messias seria capaz de identificar e julgar os inimigos através do cheiro (Is 11:3 E ele se inspirará no temor do Senhor. Não julgará pela aparência, nem decidirá com base no que ouviu). É isso o que eles estão fazendo com Jesus.

d - TAPAS (Gk. ῥάπισμα) – Essa palavra pode significar tanto bater com a palma da mão como agredir com uma vara.

O tapa com a palma da mão é um sinal de desprezo no oriente.

Tudo isso é uma clara e perfeita demonstração de como até os homens mais religiosos do mundo, sem a graça regeneradora de Deus, odeiam o Evangelho e odeiam Jesus.

Eles rejeitam, humilham e agridem a Luz que brilhou nas trevas!

v.65 E os guardas o levaram, dando-lhe tapas.

Jesus é levado para fora do palácio com tapas. Como um animal, como um assassino, Ele é humilhado e agredido. Provavelmente Jesus foi levado para o pátio onde estava Pedro.

O que a liderança de Israel não sabia é que eles mesmos estavam revelando uma outra característica de Jesus: Ele não é só o Cristo, o Filho de Deus, o Filho do Homem e o Senhor de Davi. Ele é também o Servo Sofredor profetizado por Isaias.

Como o Servo Sofredor, Jesus sofre exatamente o que havia sido profetizado. Ele sofre tudo isso para levar o pecado do Seu povo.

Que ironia divina! Eles agridem e humilham Aquele que será vindicado e glorificado!

Is 50:6 Ofereci minhas costas para aqueles que me batiam, meu rosto para aqueles que arrancavam minha barba; não escondi a face da zombaria e da cuspida.

CONCLUSÃO:

1 - Jesus prometeu que aqueles homens veriam Ele vindo nas nuvens e assentado à direita de Deus. A liderança de Israel viu o que Jesus prometeu?

Sim! Eles não viram literalmente Jesus subindo nas nuvens e assentando-Se à direita de Deus, mas eles puderam experimentar a exaltação de Jesus! A grande prova de que Jesus subiu nas nuvens e se assentou à direita de Deus foi revelada na ressurreição e na ascensão de Jesus. Eles viram Jesus à direita de Deus, pois eles viram a expansão da igreja e o fim da religião deles. A demonstração mais clara de que Jesus subiu, se assentou e reina está na expansão e na vitória do seu Corpo, a Igreja.

Eles estavam todos vivos quando Jesus ressuscitou, ascendeu e começou a reinar. Portanto, eles viram o que Jesus prometeu.

2 – Toda pessoa e toda religião que não têm Jesus como Senhor Deus, como o verdadeiro Messias que tomou sobre Si o pecado do Seu povo, morreu uma morte vicária, ressuscitou e ascendeu à direita Deus, faz de Jesus um blasfemador!

Como vimos tão claramente nessa história, Jesus só pode ser:

1 – Maluco, um lunático que acreditava ser Deus e ter poder para reinar.

2 – Um mentiroso e blasfemador que proclamou ser Deus e disse que se assentaria em seu trono celestial com poder para julgar o mundo, mas não passava de uma grande mentira.

3 – Jesus é realmente o Deus encarnado que morreu no lugar do Seu povo (como Ele mesmo disse), venceu a morte, ressuscitou e ascendeu aos céus onde Ele reina hoje.

Se Jesus é Deus, então você precisa cair de joelhos diante dEle, adorá-Lo, reverenciá-Lo e tê-Lo como Senhor de sua vida.

Qualquer outra opção que não seja a terceira coloca a pessoa no banco dos réus, condenada pelo próprio Jesus.

Que hoje seja o Dia de Misericórdia, que o Senhor lhe conceda olhos para ver e ouvidos para ouvir. Que Deus lhe conceda arrependimento.

Pare de cuspir na face dEle! Pare de desprezá-Lo! (Hb 10:26-31)

Ele está assentado em um trono na corte santa e está julgando e julgará todas as coisas. Terrível coisa é cair nas mãos desse santo e justo Juiz sem a Sua justiça imputada pela fé.

Hoje, nós, cristãos, celebramos a ressurreição dAquele que sofreu e foi cuspido e agredido por nós. Celebramos e adoramos Aquele que subiu nas nuvens, teve os portais eternos abertos e se assentou à direita de Deus. Hoje, o meu Senhor e Salvador reina!