terça-feira, 24 de abril de 2012

Marcos 14:41-46 - O Beijo Enganoso

Série de Sermões em Marcos
Passagem: Marcos 14:41-46
Título: O Beijo Enganoso
Pregado na manhã de Domingo, do dia 22 de abril de 2012,
na Igreja Reformada em Campinas Soli Deo Gloria,
por Gustavo Barros

Versão em vídeo

Marcos 14:41-46  41 Voltando pela terceira vez, ele lhes disse: "Vocês ainda dormem e descansam? Basta! Chegou a hora! Eis que o Filho do homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores. 42 Levantem-se e vamos! Aí vem aquele que me trai!" 43 Enquanto ele ainda falava, apareceu Judas, um dos Doze. Com ele estava uma multidão armada de espadas e varas, enviada pelos chefes dos sacerdotes, mestres da lei e líderes religiosos. 44 O traidor havia combinado um sinal com eles: "Aquele a quem eu saudar com um beijo, é ele: prendam-no e levem-no em segurança". 45 Dirigindo-se imediatamente a Jesus, Judas disse: "Mestre!", e o beijou. 46 Os homens agarraram Jesus e o prenderam.

Introdução:
Há alguns anos atrás, as grandes emissoras de TV, tais como National Geographic, SBT e Globo, divulgaram a descoberta do Evangelho de Judas como algo que traria uma revolução no cristianismo. Esse ‘novo evangelho’ passou a ser conhecido como ‘o evangelho proibido’, pois nele era revelado que Judas Iscariotes não foi um traidor e um terrível pecador, mas que, na verdade, ele foi o maior e mais exemplar discípulo de Jesus.
Veja algumas citações que eu encontrei em um site gnóstico após uma rápida pesquisa na internet sobre essa nova interpretação de Judas [http://www.gnosisonline.org/teologia-gnostica/judas-iscariotes-e-seu-evangelho/]: Pergunta: Então, Venerável Mestre, ao cumprir com esse papel, Judas não recebeu karma? Samael Aun Weor responde: Ao contrário, ganhou dharma aos milhões, por toneladas. Judas Iscariotes é um grande Mestre. Ele não queria aquele papel. Ele nada mais fez do que repetir o que havia aprendido de memória. Como tinha de o fazer, tinha de ser exato, preciso, no momento oportuno. Tudo tinha de ser perfeito, de acordo com o drama. Porém, ele não traiu Jesus jamais. Ele foi seu melhor discípulo... Pergunta: Que nos pode o senhor dizer de Judas Iscariotes, de sua missão como um Ser Sagrado? Rabolu: Através das seitas religiosas ou crenças, sempre se teve Judas como um elemento perverso, daninho, mau... Mas em realidade, de todos os Apóstolos do Mestre Jesus, o mais adiantado, ou não digamos adiantado, senão o de categoria superior, foi Judas, a quem tocou representar o papel mais terrível... ‘Sobre Jesus e Judas, existem muitas obras literárias, mas uma das poucas que nos tocam no fundo de nossa alma é o Livro O Voo da Serpente Emplumada, de Armando Cosani. Nessa obra é revelada a verdadeira história de um dos personagens mais importantes e mais injustiçado de toda a história do cristianismo. Um homem que amou tanto a seu mestre que teve que passar pela maior de todas as provações. Um homem que negou toda a felicidade nirvanica para se sacrificar em prol da humanidade, fazendo aquilo que deveria ser feito. Com um beijo cumpriu sua missão e entrou para a história como sinônimo de traição.’”
Assim como a nossa sociedade passou a ver Judas Iscariotes como um homem bom e exemplar, ela também vê a traição como algo normal. O homem mais sinistro de toda a Bíblia, o pior exemplo de pessoa, aquele que passou três anos diretos com Jesus, comendo, dormindo, ministrando com Jesus e ouvindo-o, e, ainda assim, O odiou e O traiu, vendendo o Cristo pelo preço de um escravo, agora é exaltado como um herói, como um exemplo de discípulo. Portanto, em vista dessa situação, não é de se estranhar que a traição não seja só tratada como algo normal, mas seja exaltada e promovida em nossos dias. Os filmes mostram o adultério (que é um tipo de traição) como a coisa mais normal. E muitos cristãos estão tão sonolentos e tão sem guarda que eles assistem a filmes com traição e as acham normais. Na esfera dos negócios e comercio há o dito, ‘se você não passar a pessoa para trás, você não irá conseguir nada’. E assim esse terrível pecado – a traição – vem se tornando cada vez mais normal nessa sociedade que agora vê Judas como um bom homem.
Essa história em Marcos 14 nos fala sobre esses dois assuntos tão deturpados em nossos dias: o pecador Judas e o pecado da traição! Mas antes de iniciarmos nosso estudo, eu gostaria de enfatizar que, apesar de Judas e a traição serem partes importantes nessa trama da crucificação, o foco de Marcos está em Jesus. Marcos não voltará a falar de Judas, o evangelista não voltará a falar do beijo de traição, mas Jesus continuará a ser o centro de tudo. Que os holofotes estejam todos voltados para a soberania do Pai e do Filho nessa cena tão importante na história da redenção!

Contextualização:
Continuamos dentro do Jardim do Getsêmani com o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Como vimos no estudo passado, as horas de agonia e aflição levaram a Jesus a vigiar e orar, vencendo assim a grande tentação. Jesus venceu a tentação e está pronto para enfrentar Seus inimigos. Essa é a última noite de Jesus com Seus discípulos. E que noite é essa! Essa noite é uma noite histórica! Essa é uma noite de festa, uma noite de aflição, uma noite de fraqueza, uma noite de triunfo, uma noite de conspiração, uma noite de traição, uma noite de falsa valentia, uma noite de verdadeira valentia, uma noite de fuga e uma noite de compaixão!

Divisão do Estudo:
i – A CHEGADA DOS PECADORES (VS. 41-43)
II – a conspiração (V.44)
III – O BEIJO DA TRAIÇÃO (V.45)
IV – JESUS É ‘ENTREGUE’ (V.46)

I – A CHEGADA DOS PECADORES (VS. 41-43)
41 Voltando pela terceira vez, ele lhes disse: "Vocês ainda dormem e descansam? Basta! Chegou a hora! Eis que o Filho do homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores. 42 Levantem-se e vamos! Aí vem aquele que me trai!" 43 Enquanto ele ainda falava, apareceu Judas, um dos Doze. Com ele estava uma multidão armada de espadas e varas, enviada pelos chefes dos sacerdotes, mestres da lei e líderes religiosos.

v.41 Voltando pela terceira vez, ele lhes disse: "Vocês ainda dormem e descansam? Basta!
Por três vezes no Getsêmani Jesus saiu para orar, para clamar pela força e graça do Pai naquele momento tão angustiante. Três vezes o Senhor ordenou Seus discípulos que orassem e vigiassem, mas nas três vezes Ele os encontrou dormindo.
Prestemos atenção em quão misericordioso e bondoso foi nosso amado Salvador, pois no meio da mais severa tribulação, durante o momento mais precioso entre Ele e o Pai, durante Sua oração mais fervorosa, Ele interrompeu esse momento para cuidar dos Seus homens. As três vezes que Jesus foi checar Seus discípulos fala do grande amor dEle por cada um de Seus discípulos.
E aqui no v.41, Jesus se achega a eles pela terceira e última vez e os acorda com um ‘basta!’. Essa palavra ‘basta’ é como uma espada de dois gumes. Ela corta as chances dadas aos discípulos. Agora eles não têm mais tempo e nem oportunidade de vigiarem e orarem. O ‘basta’ também fala da vitória de Jesus sobre a tentação de não ir para a cruz. Quão doce e quão amargo é esse ‘basta’ do nosso Senhor!

Basta! Chegou a hora! Eis que o Filho do homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores.’  --- A tão esperada hora chegou! A hora que o Filho não sabia (13:32) e não queria (14:35) agora é conhecida e recebida! Essa é a hora! A hora que Jesus é entregue nas mãos dos pecadores!
Ser entregue nas mãos dos pecadores’ é sinônimo de tomar o cálice da ira do Senhor! No v.36 Ele pediu para que, se possível, o cálice fosse passado - o cálice fala do julgamento, da justa ira de Deus. Agora o Filho se aproxima de Seus discípulos, vencedor sobre a pior de todas as tentações e declara que tomará até a última gota daquele terrível vinho!

v.42 Levantem-se e vamos!  --- O Leão da tribo de Judá, o Rei dos reis está pronto. Toda a aflição, toda angustia, toda dor fez com que Jesus vigiasse e orasse. E foi nesse período de oração e submissão à vontade de Deus que a vitória veio. O nosso Senhor tem suas roupas manchadas de sangue, as aflições, as angustias e a profunda tristeza foram devoradas pelo poder da graça recebida durante o tempo de oração. Jesus se apresenta como um valente guerreiro, se submetendo a vontade do Senhor dos Exércitos. Agora o nosso Salvador começa a marchar para enfrentar a morte na cruz! Que maravilhosa e temível cena deve ter sido essa! Ele não foge, mas marcha para a Sua morte!

 ‘Aí vem aquele que me trai!’--- Jesus vê de longe a multidão chegando ao Getsêmani. O barulho das pisadas, das espadas e as tochas mostravam que eles estavam chegando ao Getsêmani. E Ele sabe quem está liderando essas pessoas: Judas!

Essa é uma cena maravilhosa: O Filho de Deus está de pé, suas vestes vermelhas de sangue e Ele começa a marchar em direção aquele que o irá trair. Ele caminha para Sua morte, ao invés de fugir!

v.43Enquanto ele ainda falava, apareceu Judas, um dos Doze’ ---
A essa altura, Jesus provavelmente já estava com os outros discípulos que haviam ficado na entrada do jardim.
‘apareceu Judas, um dos Doze’ --- Marcos gosta de identificar o traidor como ‘um dos Doze’ para ressaltar e enfatizar quão terrível e profunda foi essa traição. Ele pertencia a um dos Doze, Judas teve um incomparável privilégio.  Ele passou três anos ao lado de Jesus, ele comeu, dormiu e ministrou com o Senhor, ouviu as palavras dEle e teve seu pé lavado por Cristo e ainda assim ele permaneceu nos seus pecados! Não houve milagres, nem atos de bondade, nem privilégios, nem atos de julgamento que quebraram o coração duro de Judas.

Algumas lições práticas que nós podemos aprender da vida de Judas:
1 - As maiores oportunidades nunca irão converter um pecador. 2 - Os maiores privilégios nunca darão vida ao pecador que está morto em suas transgressões. 3 – Por melhor que sejam as suas companhias elas não poderão salvar uma alma do inferno. 4 - A melhor pregação no mundo não pode criar vida e fé, por si mesma, na alma. A salvação pertence à obra regeneradora do Senhor!

Olhando para a vida do maior hipócrita da história da humanidade, algumas perguntas me vêm à mente: Quão perto alguém pode estar de Jesus e ainda assim não conhecê-Lo? Quão perto alguém pode estar da verdade e ainda assim permanecer na mentira? Quão perto alguém pode estar do céu e ainda assim ir para o inferno? Quão perto alguém pode estar da salvação e ainda assim receber condenação? Quanto pode uma pessoa conhecer sobre Jesus e ainda não conhecer a Jesus? A vida de Judas nos mostra que é possível alguns estarem tão perto, mas ao mesmo tão longe.

Judas havia saído no meio da ceia para concretizar a traição (Jo 13:30 Assim que comeu o pão, Judas saiu. E era noite). João 18:1-3 nos diz que Judas conhecia o Jardim do Getsêmani, por isso ele sabe onde encontrar Jesus.

Mas Judas não veio sozinho:
v.43 Com ele estava uma multidão armada de espadas e varas, enviada pelos chefes dos sacerdotes, mestres da lei e líderes religiosos.

COM ELE ESTAVA UMA MULTIDÃO’ – Não sabemos ao certo quantas pessoas estavam nesse grupo, mas poderia facilmente chegar a centenas de homens. Era normal nessa época do ano (Páscoa) ter um grupo mais intenso de guardas, pois era uma época que Jerusalém ficava lotada de pessoas e muitos grupos rebeldes se levantavam contra o governo romano.

Essa multidão não vem de forma pacífica, não vem com pétalas de rosa e nem com alegria, mas sim com ódio, fúria e armas:
UMA MULTIDÃO ARMADA DE ESPADAS E VARAS’ [μετὰ μαχαιρῶν καὶ ξύλων] – Essa multidão vem armada com: ESPADAS [Gk. μάχαιρα] – essa era uma espada menor e afiada, usada para ataque e corte. Muito usada pelos soldados romanos. VARAS [Gk. ξύλον] – pedaço de pau ou bastão de madeira. Essa era a arma usada pelos guardas do Templo.

João 18:3 Então Judas foi para o olival, levando consigo um destacamento de soldados [coorte – décima parte de uma legião = 600 homens] e alguns guardas enviados pelos chefes dos sacerdotes e fariseus, levando tochas, lanternas e armas.

Alguns comentários acreditam que a palavra usada por João [vs.3,12 - σπεῖρα -- coorte, destacamento de soldados] implica que soldados romanos haviam sido enviados juntamente com os guardas do Templo para evitar qualquer tipo de rebelião. Mas durante os dias de Jesus, os guardas do Templo já eram muito bem organizados, recebiam títulos e eram divididos de acordo com o sistema de guarda romana (ver France, pg. 593). As espadas (machaira) eram usadas por judeus também. Portanto, não podemos assegurar com certeza de que já havia gentios (soldados romanos) envolvidos nessa primeira fase.

Uma coisa nós podemos assegurar: quão impossível é para os inimigos do nosso Senhor (todos os não regenerados) entenderem a natureza do Reino de Deus! Eles esperavam uma revolta armada e violenta da parte do nosso Salvador. Quão pouco eles conheciam o Senhor Jesus! É exatamente isso o que ocorre com as pessoas que não receberam uma mente regenerada pelo Espírito, elas não entendem a natureza e as características do Reino de Deus. Para essas pessoas a vida guiada pelo Espírito é loucura!

Eles se aproximam de Jesus como um mini-exército – armados e cheios de ódio. Uma milícia foi ao campo para pegar o Cordeiro pascal!
A cena é de injustiça! Homens armados se aproximam no meio da noite para prender o inocente. A cena é de covardia! Centenas de homens armados para prender um homem desarmado e que nunca cometeu uma ofensa.

O mais triste é saber quem enviou essa multidão armada com espadas e cassetetes para pegar Jesus:
v.43 ENVIADA PELOS CHEFES DOS SACERDOTES, MESTRES DA LEI E LÍDERES RELIGIOSOS
Essa milícia foi enviada pela liderança de Israel. Essa multidão não é um grupo de pessoas qualquer, mas sim um grupo enviado pelo Sinédrio. O Sinédrio representava todo o povo em assuntos políticos e religiosos. Esses são os grupos religiosos que Jesus havia falado que O rejeitariam (8:31). Agora é a hora!
Essa multidão armada enviada pelo Sinédrio representa o que toda a nação judaica desejava de Jesus. Não representa só a nação judaica, mas também todas as pessoas que nunca tiveram seus corações mudados pelo Espírito Santo – as pessoas que não nasceram de novo odeiam amargamente a Deus e a Seu Filho Amado (Rm 8:7 a mentalidade da carne é inimiga de Deus; Tg 4:4 Adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Quem quer ser amigo do mundo faz-se inimigo de Deus)!

Como eles iam chegar a Jesus no meio da noite escura?
II – a conspiração (V.44)
44 O traidor havia combinado um sinal com eles: "Aquele a quem eu saudar com um beijo, é ele: prendam-no e levem-no em segurança".  

‘O traidor havia combinado um sinal com eles’ --- Aqui nos é informado mais alguns detalhes da conspiração [14:10-11 10 Então Judas Iscariotes, um dos Doze, dirigiu-se aos chefes dos sacerdotes a fim de lhes entregar Jesus. 11 A proposta muito os alegrou, e lhe prometeram dinheiro. Assim, ele procurava uma oportunidade para entregá-lo]  
‘combinado um sinal’ – O plano de Judas é tão macabro que ele faz um acordo com os líderes de Israel. O sinal era preciso, pois a noite no Getsêmani era muito escura. Talvez nem todos da multidão tivessem visto a face de Jesus. Esse sinal nos mostra como Jesus era semelhante aos outros discípulos, Ele não tinha vestes especiais e nem aureola (halo) sobre a cabeça! Ele precisava ser identificado por Judas para que eles não prendessem a pessoa errada.

Qual seria o sinal de Judas?
‘Aquele a quem eu saudar com um beijo, é ele’ --- Quão baixo e quão horrível é o sinal! Judas poderia simplesmente apontar com sua mão, descrever verbalmente ou até mesmo agarrá-Lo de forma violenta. Mas ele vai mais fundo na sujeira, Judas rola ainda mais na lama e usa um sinal de afeição e de carinho como modo de traí-Lo.

‘saudar com um beijo’  [Gk. ὃν ἂν φιλήσω αὐτὸς ἐστιν] – “O beijo era um sinal de afeto especial entre membros da família, bons amigos, e um sinal de honra e afeto entre um discípulo e seu mestre.” (Craig Keener, The IVP Bible Background Commentary – New Testament, IVP, pg.177). Homens na antiga [e moderna] Palestina costumavam cumprimentar um ao outro com um beijo na face. Esse era a maneira comum de saudar um venerável rabino e teria parecido um saudar de paz para os outros discípulos.(Zondervan Illustrated Bible Backgrounds Commentary, pg 166).

Na Bíblia há vários relatos de beijos como demonstração de profunda amizade e carinho (Gn 29:13 Logo que Labão ouviu as notícias acerca de Jacó, seu sobrinho, correu ao seu encontro, abraçou-o e o beijou. Depois, levou-o para casa, e Jacó contou-lhe tudo o que havia ocorrido; 33:4 Mas Esaú correu ao encontro de Jacó e abraçou-se ao seu pescoço, e o beijou. E eles choraram; II Sm 15:5 E sempre que alguém se aproximava dele para prostrar-se em sinal de respeito, Absalão estendia a mão, abraçava-o e beijava-o; Rm 16:16 Saúdem uns aos outros com beijo santo).
Judas usa o sinal de carinho, de amor, de respeito, o sinal de verdadeira amizade e o transforma em um sinal de covardia e traição!

 ‘Aquele a quem eu saudar com um beijo, é ele: prendam-no e levem-no em segurança’--- Assim que o sinal for dado esses homens devem:
PRENDÊ-LO – (Gk. κρατέω) --- Essa palavra tem o sentido de se apoderar de algo ou alguém, ter controle sobre uma pessoa, exercer força e poder sobre alguém; LEVÁ-LO – (Gk. ἀπάγω) --- Aqui essa palavra tem o sentido de levar um marginal ou um rebelde para julgamento; EM SEGURANÇA – Judas quer ter a certeza de que ele receberá o dinheiro, por isso ele pede por segurança!

O pecado desses homens faz com que eles acreditem que eles tenham força e poder o suficiente para controlar e se apoderar do nosso Senhor.
Nada e ninguém nesse mundo têm poder para controlar Jesus. Muitas seitas cristãs ensinam que pela fé você pode controlar Jesus e Ele fará tudo o que você deseja. Isso é uma terrível heresia! Muitos que se dizem cristãos se comportam como Judas e essa multidão achando que podem controlar e exercerem poder sobre Jesus.

Judas deseja pressa e força da parte da multidão para que nada dê errado, pois ele sabe que Jesus tem poder.

III – O BEIJO (V.45)
45 Dirigindo-se imediatamente a Jesus, Judas disse: "Mestre!", e o beijou.

Nenhuma outra ação em toda a história da humanidade contém tanta hipocrisia como essa de Judas! Aqui encontramos o ápice da hipocrisia! O ápice da encenação! O ápice da covardia!
Os passos de Judas:
1 – Ele se aproximou de Jesus --- O verbo ‘aproximar’ ou ‘dirigir a alguém’ é também usado com o sentido de alguém que se aproxima de Deus para buscar graça (Hb 7:25;11:6). Quão terrível e sinistra é essa aproximação de Judas. Ele se aproxima do Filho de Deus não para buscar graça e perdão, mas buscar a morte dEle! Ele se aproxima de Jesus para conseguir as suas trinta moedas de prata. Ele se aproxima de Jesus para conseguir o que ele tanto amava – dinheiro!

2 – Ele chamou Jesus de ‘mestre’ --- Cada ação de Judas mostra quão perverso era o seu coração. A hipocrisia parece nunca chegar ao fim. Se aproximar de Jesus não foi o bastante. Judas agora o chama de ‘mestre’ (rabino), como se os ensinos de Jesus tivessem sido importantes na vida dele. Ele fala como se Jesus fosse seu grande professor, como se as palavras de Jesus fossem a verdade que ele seguia. Mateus nos relata que Judas disse “Salve, Mestre!”. Ele tem a ousadia de saudar o nosso Senhor com um ‘salve’ que tem o sentido de ‘saudações’ ou ‘alegre-se’.

3 – Ele beijou o nosso Senhor --- O ápice da hipocrisia! ‘beijou’ -- a palavra grega carrega aqui um prefixo sinalizando uma intensidade na ação (καταφιλέω). Essa palavra pode se referir tanto a vários beijos como a um beijo com mais carinho e afeto. Essa é a palavra usada na parábola do filho pródigo. Judas não deu só um beijinho superficial, mas ele deu, provavelmente, um abraço apertado e um beijo.  
Como um artista ele faz de conta, de forma perfeita, que ele tinha carinho pro Cristo.

Pv 27:6 Leais são as feridas feitas pelo amigo, mas os beijos do inimigo são enganosos.

Essa semana eu li um artigo que fala do grande número de cristãos que têm abandonado a fé e as igrejas. O que nós podemos ver dos evangélicos no Brasil é que a grande maioria dá esses mesmos passos que Judas deu em direção a Jesus. Eles se aproximam de Jesus, O chamam de ‘Mestre’ e O beijam, mas a aproximação nunca foi impulsionada pela ação regeneradora do Espírito Santo, e sim pela emoção e pressão do momento. Muitos chamam Jesus de ‘Mestre’, mas jamais aceitaram os verdadeiros ensinos dEle. Chamam Jesus de ‘Mestre’, mas na verdade odeiam os duros mandamentos de tomar a cruz, negar a si mesmo e perder a vida por causa do Evangelho. Quantas pessoas ‘beijam’ o Cristo, mas o beijo é para conseguir algo em troca. Pessoas confessam com os lábios que amam a Jesus, mas na verdade estão na busca de algo em troca. Isso se chama hipocrisia! Isso se chama falsa conversão!
Que o Senhor nos livre dessa hipocrisia!
Rm 12:9 O amor deve ser sincero [sem hipocrisia]. Odeiem o que é mau; apeguem-se ao que é bom.

O OLHAR DE JUDAS E O OLHAR DE PEDRO:
Como pôde Judas olhar para aquela face tão cheia de graça e compaixão e não se arrepender?
Veja o que Jesus disse para Judas quando ele O beijou: “Jesus perguntou: ‘Amigo, que é que o traz?'(Mt 26:50). O sentido da frase é, ‘Você que se assentou comigo, faça o que tem que ser feito!’.  Jesus olha na cara de Judas, o chama de ‘amigo’ e o deixa seguir seu próprio destino.
Marcos não irá mais falar sobre Judas. Para o evangelista a história de Judas acaba aqui. Mas Mateus nos diz o que ocorreu após a traição. Mt 27:3-5 3 Quando Judas, que o havia traído, viu que Jesus fora condenado, foi tomado de remorso e devolveu aos chefes dos sacerdotes e aos líderes religiosos as trinta moedas de prata. 4 E disse: "Pequei, pois traí sangue inocente". E eles retrucaram: "Que nos importa? A responsabilidade é sua". 5 Então Judas jogou o dinheiro dentro do templo, saindo, foi e enforcou-se.
Judas se encheu de remorso e se matou! Ele nunca se arrependeu verdadeiramente.

Algumas horas depois, o mesmo Jesus olhou na face de outro discípulo que O havia negado: Lc 22:61-62 O Senhor voltou-se e olhou diretamente para Pedro. Então Pedro se lembrou da palavra que o Senhor lhe tinha dito: "Antes que o galo cante hoje, você me negará três vezes". Saindo dali, chorou amargamente.
A grande diferença está no que ocorre após o olhar de Cristo. Pedro ‘chorou amargamente’, ele sentiu remorso, ele sentiu o peso da sua traição, mas ele se arrependeu! Pedro não foi e se matou, mas se arrependeu e se tornou o grande líder da igreja primitiva.

Jesus havia orado por Pedro (Lc 22:31-32). Jesus havia orado para que o Pai o guardasse. Assim como com Pedro, nós temos uma certeza e uma responsabilidade. Todos por quem o Salvador intercede, esses têm a certeza de perdão e restauração – essa é a certeza. E todos por quem o Salvador intercede têm a responsabilidade de estarem constantemente se arrependendo e sendo mudados.
Que sempre quando negarmos o nosso Senhor, que sempre quando pecarmos, que possamos ser tocados, como Pedro, quando o nosso Senhor olhar na nossa face. Que os nossos corações sejam como o de Pedro – que possamos chorar amargamente pelos nossos pecados – quando o Senhor Se voltar para nós e olhar diretamente para nós. Que oremos para jamais ter um coração como o de Judas – ele olhou a mesma face graciosa e continuou em rebeldia!

IV – JESUS É ‘ENTREGUE’ (V.46)
46 Os homens agarraram Jesus e o prenderam.

A hora chegou e o Filho de Deus é entregue nas mãos dos homens pecadores!

OS HOMENS AGARRARAM JESUS” (NVI) ou “E lançaram-lhe as mãos” (ACF)
[Gk. οἱ δὲ ἐπέβαλον τὰς χεῖρας αὐτῷ]--- O verbo nesse contexto tem o sentido de colocar a mão de forma firme e até mesmo agressiva sobre um criminoso. Devido ao ódio e ao temor que Ele fugisse, eu imagino quão bárbaro deve ter sido o modo que eles imobilizaram e agarraram o Salvador.
O que Jesus havia prometido agora é cumprido, Ele está literalmente nas mãos dos pecadores, e espiritualmente recebendo a ira de Deus! Jesus está abandonado pelo Pai, nas mãos de homens pecadores! Ez 39:23 – E os gentios saberão que os da casa de Israel, por causa da sua iniquidade, foram levados em cativeiro, porque se rebelaram contra mim, e eu escondi deles a minha face, e os entreguei nas mãos de seus adversários, e todos caíram à espada; Jz 2:14 – Por isso a ira do SENHOR se acendeu contra Israel, e os entregou na mão dos espoliadores que os despojaram; e os entregou na mão dos seus inimigos ao redor; e não puderam mais resistir diante dos seus inimigos; Sl 78:59-61 – 59 Sabendo-o Deus, enfureceu-se e rejeitou totalmente a Israel; 60 abandonou o tabernáculo de Siló, a tenda onde habitava entre os homens. 61 Entregou o símbolo do seu poder ao cativeiro, e o seu esplendor, nas mãos do adversário.

v.46Os homens agarraram Jesus e o prenderam’--- Agora o nosso Salvador está sob o poder desses homens pecadores. Como um marginal, como um criminoso, o nosso Senhor e Salvador será levado para um julgamento injusto!
E O PRENDERAM’ --- Aquele que nunca cometeu nenhum crime foi preso!
Ele é preso como um criminoso, pois sobre Ele estão os nossos crimes! Ele é preso como um ladrão, pois sobre Ele estão todas as vezes que roubamos a glória de Deus! Ele é preso como um rebelde, pois sobre Ele estão todas as nossas rebeldias contra a santa vontade de Deus! Eles O prenderam como um malfeitor, pois sobre o nosso Salvador estão todas as nossas facínoras. Ele é levado como um delinquente, pois Ele está carregando todas as nossas repetidas ofensas.

Ele foi preso para que nós pudéssemos ser livres! Ele foi preso como um criminoso para que as nossas correntes pudessem ser quebradas. Ele foi preso como um delinquente para que as nossas cadeias fossem destruídas!

NÃO NOS ESQUEÇAMOS:
Ele não é agarrado e preso por causa da força e da esperteza de Seus adversários! Mas porque Ele entrega a Sua própria vida. O nosso Salvador dá a Sua própria vida em submissão à perfeita vontade de Deus! [Jo 10:17  17 Por isso é que meu Pai me ama, porque eu dou a minha vida para retomá-la. 18 Ninguém a tira de mim, mas eu a dou por minha espontânea vontade. Tenho autoridade para dá-la e para retomá-la. Esta ordem recebi de meu Pai.]

João nos mostra que, antes deles prenderem Jesus, o nosso Senhor deu uma breve mas poderosa demonstração da Sua autoridade e poder sobre a Sua própria prisão.
João 18:1-18 1 Tendo terminado de orar, Jesus saiu com os seus discípulos e atravessou o vale do Cedrom. Do outro lado havia um olival, onde entrou com eles. 2 Ora, Judas, o traidor, conhecia aquele lugar, porque Jesus muitas vezes se reunira ali com os seus discípulos. 3 Então Judas foi para o olival, levando consigo um destacamento de soldados e alguns guardas enviados pelos chefes dos sacerdotes e fariseus, levando tochas, lanternas e armas [Jesus não estava se escondendo como um ladrão, mas um dos motivos dEle estar no Getsêmani era para Ele ser encontrado por Judas]
v4 Jesus, sabendo tudo o que lhe ia acontecer [A soberania e valentia do nosso amado Senhor!], saiu [É Ele quem se entrega. Ele não correu e nem se escondeu, mas saiu para encontra-los.] e lhes perguntou: "A quem vocês estão procurando?" [Mostrando nos quem está no controle de tudo!]
v5 "A Jesus de Nazaré", responderam eles. [Veja que eles têm Jesus como um homem normal de Nazaré.]
"Sou eu", disse Jesus. [A resposta de Jesus revela quem Ele realmente é: SOU EU = YHWH]
(E Judas, o traidor, estava com eles).
v6 Quando Jesus disse: "Sou eu", eles recuaram e caíram por terra. [Ao som do nome verdadeiro de Jesus eles caíram – as palavras de Jesus são como uma espada que quebra os joelhos desses homens e eles se prostram diante dEle. O mesmo Jesus que tem poder sobre a tempestade, sobre demônios e sobre a morte, tem o poder de colocar os mais bravos soldados no chão ao som da Sua voz. É importante notarmos que Judas está no meio deles, mostrando que o poder de prender Jesus não estava com Judas].
v7 Novamente lhes perguntou: "A quem procuram?" E eles disseram: "A Jesus de Nazaré". v8 Respondeu Jesus: "Já lhes disse que sou eu. Se vocês estão me procurando, deixem ir embora estes homens".[Jesus não só demonstra Seu soberano poder e autoridade como também Seu profundo amor e cuidado. Ele pergunta quem eles estão procurando para deixar claro que eles devem prender somente Jesus. O nosso Salvador mostra mais uma vez Sua misericórdia e graça para com Seus discípulos].

Vemos que apesar da traição ter ocorrido, da multidão agarrar e prender Jesus, tudo estava sob o controle do nosso Salvador Jesus Cristo!

CONCLUSÃO:
Uma das mais intrigantes perguntas que surge com essa história é: Qual o papel de satanás em tudo isso?
Sabemos que satanás não queria que Jesus fosse crucificado. Satanás sabia que na cruz estava a sua derrota. Na Sua tentação, o Filho de Deus recebeu do diabo a oferta de prestígio e honra (Mt 4:1-11). Quando Pedro rejeitou a ideia de que o Cristo iria sofrer e ser crucificado, Jesus lhe disse, “Para trás de mim, Satanás! Você é uma pedra de tropeço para mim, e não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens(Mt 16:23). Pois a rejeição da cruz era uma ideia satânica!
Sabemos que satanás entrou em Judas [Lc 22:3 Então Satanás entrou em Judas, chamado Iscariotes, um dos Doze].
Como conciliar essas duas verdades?
A primeira coisa que precisa ser estabelecida é que satanás não é onisciente e nem onipotente. Ele sabe e tem autoridade sobre o que Deus lhe concede permissão.
Satanás sabia que os líderes de Israel não queriam prender Jesus durante a Páscoa (Mc 14:2) por causa do tumulto que poderia ocorrer.
Ao entrar em Judas, o que tudo indica é que satanás quis que o processo fosse realizado na Páscoa para que não houvesse a crucificação. Pois se Jesus fosse preso na Páscoa, era esperado que houvesse revolta da parte dos judeus e não houvesse a crucificação.
Esta forma de execução era uma punição romana reservada para escravos e para os piores criminosos, e o fato de que Jesus foi submetido a esse tipo de morte dependia de uma combinação de eventos que nenhum ser humano poderia ter previsto [nem mesmo satanás]... era contra a lei deles exercer condenação naquele dia. (http://www.reformed.org/documents/index.html)
Para ocorrer a crucificação, seria necessário uma combinação de fatores que só Deus com Sua poderosa mão poderia permitir que ocorresse!

Quão maravilhoso é para nós cristãos termos um Deus como esse! Soberano sobre tudo e todos! Soberano sobre o traidor, soberano sobre o beijo, soberano sobre os guardas, soberano sobre a morte e soberano sobre satanás!

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