terça-feira, 17 de abril de 2012

Marcos 14:37-42 - O Jardim das Aflições Parte II

Série de Sermões em Marcos
Passagem: Marcos 14:37-42
Título: O Jardim das Aflições Parte II
Pregado na manhã de Domingo, do dia 15 de abril de 2012,
na Igreja Reformada em Campinas Soli Deo Gloria,
por Gustavo Barros

Versão em vídeo

Marcos 14:37-42  37 Então, voltou aos seus discípulos e os encontrou dormindo. "Simão", disse ele a Pedro, "você está dormindo? Não pôde vigiar nem por uma hora? 38 Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca." 39 Mais uma vez ele se afastou e orou, repetindo as mesmas palavras. 40 Quando voltou, de novo os encontrou dormindo, porque seus olhos estavam pesados. Eles não sabiam o que lhe dizer. 41 Voltando pela terceira vez, ele lhes disse: "Vocês ainda dormem e descansam? Basta! Chegou a hora! Eis que o Filho do homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores. 42 Levantem-se e vamos! Aí vem aquele que me trai!"

Introdução:
Muitas vezes em nossas vidas as horas e os lugares de maiores aflições têm tanto o potencial para se tornarem os lugares mais vergonhosos e mais decepcionantes, como também podem se tornar os lugares de mais belas vitórias e mais inestimáveis conquistas. Quando perdemos um emprego, quando um filho nos é tirado, quando uma injustiça nos é causada, situações como essas podem ser tanto lugares onde aprendemos a depender da graça, e da força, e da misericórdia de Deus, como podem ser lugares de amargura, decepção, frustração e covardia. O grande diferencial é a nossa atitude para com Deus, a nossa reação para com as soberanas ações de Deus é o que faz a diferença tão radical entre nos encontrarmos no Vale da Escuridão ou no Vale da Luz – sendo os dois vales o mesmo lugar.
Nessa história nós veremos como o Jardim das Aflições se torna para Jesus o Jardim do Triunfo – devido ao Seu comportamento e ações. Enquanto para os discípulos aquele jardim passa a ser o Jardim da Vergonha.
Que possamos olhar para essa passagem e ver o grande contraste entre Jesus e os mais valentes de Seus discípulos. Que possamos nos alegrar no fato de que a nossa salvação não estava, e não está, nas mãos de homens sonolentos (como cada um de nós)! Que possamos ser acordados por nosso Senhor e Salvador!

Contextualização:
Continuamos caminhando com o nosso Senhor Jesus no Jardim do Getsêmani. Após a ceia da Páscoa ter sido celebrada e interpretada, Jesus e Seus discípulos partiram para o Monte das Oliveiras. O propósito dessa caminhada é chegar até o Jardim do Getsêmani [lugar onde as azeitonas eram prensadas para se fazer azeite]. Esse lugar era conhecido por Jesus e Seus discípulos – eles costumavam ir lá para orar. Jesus vai para o Getsêmani com o objetivo de orar (v.32), Ele não foi lá para se esconder, mas para orar e ser encontrado por Judas[visto que ele sabia onde Jesus estaria]!
É no Getsêmani que o coração de Jesus é mostrado como nunca antes. É nesse lugar que vemos quão terrível é o nosso pecado, vemos a aflição de Jesus devido a Sua santidade e o fracasso dos Seus discípulos. Mas é nesse mesmo lugar, o Jardim das Aflições, que nós vemos a vitória de Jesus sobre a maior de todas as tentações, nós podemos ver como o Filho perfeito vigiou e orou e conseguiu a vitória final! O Getsêmani abre os portais para que possamos ver como a cruz foi conquistada.    

Divisão do Estudo:
i – o sono profundo x a vigilância perfeita (VS.37-40)
II – o ‘basta’ de jesus (VS.41-42)

i – o sono profundo x a vigilância perfeita (VS.37-40)
37 Então, voltou aos seus discípulos e os encontrou dormindo. "Simão", disse ele a Pedro, "você está dormindo? Não pôde vigiar nem por uma hora? 38 Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca." 39 Mais uma vez ele se afastou e orou, repetindo as mesmas palavras. 40 Quando voltou, de novo os encontrou dormindo, porque seus olhos estavam pesados. Eles não sabiam o que lhe dizer.

v.37 Então, voltou aos seus discípulos e os encontrou dormindo
Jesus havia ido ao Getsêmani para orar. Ele havia ido com os onze discípulos. Oito deles ficaram, provavelmente, em um lugar próximo a entrada do jardim (v.32).
voltou aos seus discípulos’ – Esses discípulos são Pedro, Tiago e João (v.33). Esses três homens já haviam visto a glória de Jesus de forma muito especial, agora eles são convocados a verem as aflições de Jesus como ninguém havia visto. Esses três haviam prometido total aliança com Jesus, eles haviam dito que estavam prontos a morrer com Jesus, por isso o nosso Salvador os leva – para testá-los e mostrá-los quão incapazes eles eram.

‘voltou’ -- Jesus havia ido para um lugar onde ninguém mais podia ir (vs.34-35). Ele tinha ido ter o pior de todos os Seus encontros – o encontro com o Pai (v.36)! Agora, Ele volta para ver como estão os Seus amigos.

VEJAMOS O GRANDE AMOR DE JESUS: No meio da oração mais intensa em toda a vida de Jesus, durante o tempo mais doloroso de oração - quando Jesus estava caído, prostrado, em extrema agonia e aflição - Ele ainda se preocupava com Seus discípulos. Ele interrompe o seu momento tão precioso e tão angustiante com Deus para ver como estão os Seus discípulos. E esse cuidado e carinho são vistos ainda hoje, por mais ocupado que Cristo esteja – nesse exato momento Ele está sentado à direita do Pai, controlando, reinando e sustentando todas as coisas, ainda assim Ele cuida e se importa com cada um de nós! Mesmo quando nós, assim como os três, não nos importamos com Ele, nosso Senhor ainda se preocupa com cada um nós!

‘e os encontrou dormindo’ – Aqui é o grande choque! O tempo é de extrema agonia, Jesus já os havia avisado que Ele mesmo estava passando por uma aflição como nunca antes. As aflições de Jesus já sinalizavam um tempo que requeria um maior esforço da parte deles, e se não bastasse a agonia de Jesus, o nosso Senhor acabara de avisá-los que eles todos iam tropeçar e abandoná-Lo! Esses homens estão numa batalha, e ao invés de estarem vigiando eles estão dormindo.
** Existem situações em nossas vidas que requerem um esforço maior da nossa parte, tempos que exigem uma vigilância radical, situações que requerem de nós um esforço heroico em meio às aflições. Há momentos em nossas vidas que irão requerer de nós um esforço físico e espiritual incomum.
E quando esses tempos chegam, quão fácil é para nós darmos desculpas. Os discípulos tinham várias desculpas (estavam exaustos do dia anterior – toda a preparação para a ceia, já era madrugada, eles haviam discutido muitas coisas durante a ceia, eles estavam emocionalmente abalados [Lc 22:45]) – mas nenhuma desculpa era, e é, suficiente.
É interessante notarmos em nossas próprias vidas que sempre quando entramos em tempos que requerem de nós uma maior vigilância, um maior esforço na esfera espiritual para estarmos mais tempo em oração, sempre temos ‘boas’ desculpas para a nossa preguiça espiritual. Nos tempos em que mais deveríamos estar acordados, nos exercitando espiritualmente, alertas, vigiando e orando, geralmente, esses são tempos em que mais dormimos [passamos maior tempo na frente da TV, do computador, desperdiçando nosso tempo em coisas fúteis], mas sempre temos uma desculpa (‘o Senhor quer que eu descanse’, ‘o Senhor entende minha situação’...).

O Senhor Jesus havia levado Pedro, Tiago e João para que eles pudessem orar e vigiar, e o que acontece é que eles trazem mais dores e angustia para Jesus. Esses homens ajudam no preenchimento do cálice das dores do nosso Senhor Jesus.

OS DISCÍPULOS DORMINDO:
Dormir’ no contexto de Marcos engloba tanto o aspecto físico como espiritual. Quando cristãos dormem espiritualmente isso não significa a perda da salvação, mas sim que nós estamos passando por um tempo de falta de atenção, um tempo de preguiça espiritual e isso é terrível para as nossas vidas. O Thayers Greek Lexicon define assim a palavra dormir, “metaforicamente significa ceder à preguiça e ao pecado, ser indiferente para com a salvação”.
Nós, como cristãos verdadeiros, fomos acordados da morte espiritual, fomos vivificados, mas durante a nossa jornada de peregrinação nessa terra é muito fácil de cairmos em um estado letárgico espiritual. Esse sono nos causa fazer as coisas de forma religiosa, acabamos fazendo as coisas que o Senhor nos chama a fazer sem zelo e amor genuíno, fazemos sem paixão, sem motivação genuína e sem a força do nosso ser por completo. Muitos cristãos estão nesse estado de sonambulismo, eles fazem as coisas, mas estão dormindo espiritualmente.
Talvez você esteja assim hoje: veio à igreja sem aquela paixão genuína de estar na casa do Senhor adorando a Jesus, você não tem orado, você não tem lido a Bíblia, não tem estudado a Palavra, tem negligenciado a santificação – e o Senhor nessa manhã te chama a acordar desse sono – ‘Acorda!!!!’.
Is 52:1 Desperte! Desperte!, ó Sião, vista-se de força; Ef 5:14 "Desperta, ó tu que dormes”; Rm 13:11 Chegou a hora de vocês despertarem do sono; I Te 5:6 Portanto, não durmamos como os demais, mas estejamos atentos e sejamos sóbrios, 7pois os que dormem, dormem de noite, e os que se embriagam, embriagam-se de noite. 8Nós, porém, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo a couraça da fé e do amor e o capacete da esperança da salvação.

O oposto de estar dormindo é estar acordado. Acordar ou estar acordado espiritualmente tem o sentido de uma vida vigilante, uma vida que presta atenção no que está acontecendo, que tem uma vitalidade profunda na adoração. E alguns aqui estão assim, estão mais acordados do que nunca! Isso é a graça de Deus, portanto, continue clamando pela misericórdia de Deus para que você continue com essa vitalidade e vigilância!
Para os que estão dormindo o Senhor Jesus diz, ‘Acorda!’. Todos nós precisamos dessa palavra!

Essas coisas foram escritas para nosso aprendizado. Cuidemos para que não tenham ficado registradas em vão. Estejamos sempre em guarda contra aquele espírito preguiçoso, indolente e indulgente, na esfera das coisas espirituais, que é natural a todos nós, especialmente no que concerne às nossas orações particulares. Quando sentirmos que tal atitude nos está assaltando, lembremo-nos de Pedro, Tiago e João, no Getsêmani, e exerçamos cuidado.(J.C.Ryle, Meditações no Evangelho de Marcos, Fiel, pg 190)

v.37 "Simão”, disse ele a Pedro, você está dormindo?
Aqui vemos a repreensão de Jesus para com os discípulos. Veja que Jesus não conforta o cansaço deles. Jesus não diz, ‘Poxa, vocês estão cansados, durmam mesmo!’. O Senhor corrige, exorta e repreende aqueles que Ele ama!

"Simão”, disse ele a Pedro --- Ah, como deve ter doído em Pedro ouvir ser chamado por esse nome. Simão era seu nome antigo, portanto, ao chamá-lo de Simão, Jesus está falando que ele está se comportando como antes do encontro com Cristo, Pedro estava agindo conforme seu antigo homem.
Muitas vezes nós nos comportamos assim e isso ocorre por causa da falta de vigilância, da falta de oração.
Jesus se direciona a Pedro, apesar de Tiago e João estarem com ele, pois ele era o líder do grupo, ele era o maior falastrão, ele acabara de professar lealdade até a morte (14:29-31). O que falava pelo grupo, agora escuta pelo grupo. As coisas não começaram bem para Pedro!

"Simão”, disse ele a Pedro, você está dormindo? – Jesus sabia que ele estava dormindo. A pergunta tem o sentido de, ‘Simão, o que você está fazendo dormindo? Você não é o valentão, o que você está fazendo dormindo?’

‘Não pôde vigiar nem por uma hora?’ –A palavra ‘pôde’ é interessante, pois Jesus não usa a palavra grega ‘dynamis’ (que é comumente usada), mas a palavra ἰσχύω que tem o sentido de força, vigor, vitalidade. “Uma acusação de causar feridas no tão autoconfiante Pedro.(R.T. Frace, TNIGTC –The Gospel of Mark, Eerdmans, pg 586) 

Simão é um personagem que se assemelha com muitas pessoas nas igrejas. Ele gosta de falar e gosta de criticar, mas acaba fazendo muito pouco. Quantas pessoas adoram criticar a igreja, mas nunca têm a força e vigor para tentar mudar, ou simplesmente orar pela própria igreja.

‘uma hora’ – Jesus passou, por volta de, uma hora orando. Só temos o resumo no versículo 36.

v.38  Vigiem e orem para que não caiam em tentação.
Jesus continua demonstrando Seu amor para com aqueles homens. Ele os acorda e os dá dois mandamentos.
γρηγορεῖτε καὶ προσεύχεσθε -- Os dois verbos estão no imperativo mostrando que isso é uma ordem de Jesus para todos nós. O verbo ‘orar’ está no imperativo passivo mostrando que a ação de orar deve ser contínua.
Essas duas ações andam de mãos dadas, elas são inseparáveis na vida do cristão!
Precisamos tanto orar quanto vigiar, tanto vigiar como orar. Vigiar e não orar equivale a demonstração de autoconfiança e presunção. Orar sem vigiar é demonstrar mero fanatismo.(J.C.Ryle, Meditações no Evangelho de Marcos, Fiel, pg 190)

Essas duas atitudes devem estar constantemente em ação. Assim que elas cessam em nossas vidas, nós caímos em tentação! Examine a sua própria vida e veja quantas vezes você caiu no mesmo pecado quando você parou de vigiar e de orar! Você conhece suas fraquezas, você sabe da situação que está passando e assim que você negligencia a oração e o vigiar você cai e peca: no modo de falar com os outros, no modo de tratar as pessoas em casa, o que você assiste, o que você coloca diante dos seus olhos, o tempo com o Senhor...

‘Vigiem ‘–Gk. γρηγορέω -- É literalmente o oposto de estar dormindo, significa estar atento e com cuidado. E isso é como todos nós devemos estar! Você tem vigiado? Você tem estado acordado para as coisas espirituais? Você tem vigiado e orado? Como está o seu discernimento espiritual? Muitas pessoas param de vigiar e orar e de repente começam a perder todo o discernimento bíblico, perdem a cosmovisão bíblica e acabam se comportando como as pessoas sem cristo, começam a pensar como os incrédulos [na esfera do trabalho – segue os padrões errados; na esfera familiar – o modo de tratar a esposa/marido, o modo de criar os filhos; na esfera pessoal – o modo de falar, o que assiste, o que faz; na esfera de relacionamentos – os amigos, namoro].

Você tem vigiado e orado?
Eu lhes pergunto isso não para trazer condenação, mas para lembrá-los do que ocorre quando não vigiamos e nem oramos:
‘Vigiem e orem para que não caiam em tentação’ – A tentação aqui, na história em Marcos, é o sono. É o sono que irá impedi-los de orar e se prepararem. A tentação acaba sendo o resultado final do sono e falta de oração – o negar e abandonar Jesus!

Cada um aqui é tentado e testado em uma área especifica (ou áreas) de nossas vidas: agressividade, sensualidade, idolatria, fofoca, entretenimento, e outras áreas. Mas independente de qual seja a sua área de tentação o remédio será sempre o mesmo: vigiar e orar! Cl 4:2 Dediquem-se à oração, estejam alertas (vigiando) e sejam agradecidos; I Pe 5:8 6 Portanto, humilhem-se debaixo da poderosa mão de Deus, para que ele os exalte no tempo devido. 7 Lancem sobre ele toda a sua ansiedade (feitos através da oração), porque ele tem cuidado de vocês. 8 Sejam sóbrios e vigiem. O diabo, o inimigo de vocês, anda ao redor como leão, rugindo e procurando a quem possa devorar.

Agora Jesus explicará a grande razão das nossas quedas, porque caímos em tentação e o grande motivo para estarmos sempre vigiando e orando:
v.38 O espírito está pronto, mas a carne é fraca.
Aqui Jesus declara como é a natureza do homem. Ele, claramente, não está usando a definição gnóstica e nem neo-platônica para falar sobre o homem.
Essa passagem é interpretada de várias maneiras, mas quero mostrar as três interpretações mais comuns:

1 – Jesus está se referindo ao Espírito Santo. Jesus diz que o Espírito Santo está sempre pronto para nos ajudar, mas nós caímos por ainda estarmos nesse corpo de pecado.

2 – Jesus está dizendo que o espírito (o interior) do homem regenerado quer fazer o bem, pois foi regenerado pelo Espírito Santo, mas a nossa ‘carne’ [nosso ser por completo] é facilmente vencida.

3 – O ‘espírito’ representa os heroicos desejos e vontades, e as altas aspirações do homem. Enquanto a ‘carne’, que seria o restante do homem, se contenta no conforto e impede a busca pelas aspirações e pelos grandes desejos que o homem tem.

Independente de qual interpretação que nós escolhemos, a verdade é que até o final dessa jornada na terra, até o fim dessa peregrinação nós teremos uma batalha entre o ‘espírito’ e a ‘carne’ dentro de nós.

Somos crentes autênticos e desejamos manter alertas as nossas almas? Nunca nos esqueçamos que carregamos conosco uma dupla natureza – um ‘espírito’ pronto e uma ‘carne’ fraca. (J.C.Ryle, Meditações no Evangelho de Marcos, Fiel, pg 190)
O slogan de todo cristão, do momento da conversão até a sua morte e do momento que ele acorda de manhã até colocar sua cabeça sobre o travesseiro, deve ser: vigiar e orar!

Cristãos bem-intencionados podem facilmente deixar de cumprir os seus chamados, simplesmente cedendo às várias necessidades físicas ou desejos(ESV Study Bible – comentário em Marcos 14:38). A realidade de que nossa carne é fraca deve nos levar uma vida de constante oração e alerta!


V.39 Mais uma vez ele se afastou e orou, repetindo as mesmas palavras
‘Mais uma vez ele se afastou e orou’ --- Jesus se afasta pela segunda vez. Mais uma vez Ele vai onde ninguém pode ir, mais uma vez Ele vai ter um terrível encontro com o Pai. Essa saída de Jesus não é só para ser um exemplo, não serve só como um exemplo de contraste entre Ele e Pedro, mas é porque Jesus realmente precisava orar! Jesus tinha a necessidade de estar orando e vigiando, pois aquelas eram as piores horas que Ele já havia experimentado. Se Jesus, que era totalmente Deus, precisava orar quanto mais nós homens falhos?!

‘repetindo as mesmas palavras’ --- Jesus não está fazendo vãs repetições (Mt 6:7), Ele está fazendo algo que Ele mesmo nos ensinou: PERSITÊNCIA na oração!
Lc 18:1 Então Jesus contou aos seus discípulos uma parábola, para mostrar-lhes que eles deviam orar sempre e nunca desanimar.

Quão rápido e quão fácil é para nós desistirmos durante nossas batalhas, e acabamos não perseverando na oração. Quão frequente nós oramos uma ou duas vezes, e logo desanimamos, e como ‘bons calvinistas’ colocamos logo a culpa na vontade soberana de Deus. Situações de angústia, de sofrimento, de aflição e de injustiça vêm sobre nós, e ao invés de perseverarmos em oração, como Jesus nos ensinou, logo desanimamos – isso é pecado!

Apesar das respostas das nossas orações não chegarem tão rápidas como esperamos, ainda assim nós devemos renovar nossos pedidos e continuar perseverando em oração.(Matthew Henry´s Commentary on Mark, Hendrickson, pg 447)

Que possamos aprender com o nosso Senhor e Salvador a importância de perseverar na oração – não importa quão difícil seja a situação!

repetindo as mesmas palavras --- As palavras da oração são encontradas no v.36.
Jesus repetia em agonia, dor e aflição as mesmas palavras: "Aba, Pai, tudo te é possível. Afasta de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, mas sim o que tu queres."

Ah, quão profundas são essas palavras! Quantas coisas podemos aprender através dessa oração:
a – ‘Aba, Pai’ --- O relacionamento maravilhoso entre Deus e Jesus. Vemos o perfeito relacionamento entre as duas pessoas da Trindade e a triste realidade que por causa dos nossos pecados esse relacionamento está para ser quebrado. Por causa das nossas transgressões o Pai irá voltar suas costas para o Filho Amado. Aprendemos através dessas palavras que a oração é algo pessoal. A oração fala de um relacionamento entre os filhos e o Pai!

b – ‘Tudo te é possível’ --- Jesus sabe que nada é impossível para o Pai. Essa deve ser nossa atitude quando nos aproximamos de Deus em oração – sempre reconhecendo a soberania e a autoridade de Deus sobre TODAS as coisas!

c – ‘Afaste de mim este cálice’ --- Como pesava em Jesus nossos pecados! A experiência pessoal de carregar nossos pecados, de tomar sobre o Seu santo e justo corpo toda a nossa injustiça e nossos pecados fez com o nosso Senhor clamasse por outra alternativa – Ele clamou por um outro modo para obter a salvação. Aprendemos também que não tem problema pedir para que o Senhor mova e retire as nossas aflições (Paulo fez isso, II Co 12).

d – ‘contudo, não seja o que eu quero, mas sim o que tu queres’ --- Essa deve ser a essência de toda oração – submissão à vontade de Deus. Quão diferente é essa oração das orações atuais. Hoje as pessoas pedem, imploram e declaram a benção de Deus sobre as próprias vontades carnais. Que possamos seguir o exemplo do Filho de Deus!

v.40 Quando voltou, de novo os encontrou dormindo, porque seus olhos estavam pesados. Eles não sabiam o que lhe dizer

‘Quando voltou’ --- Mais uma vez nós podemos ver a grande misericórdia de Jesus. Ele havia saído pela segunda vez para ficar na presença do Pai vigiando e orando, e no meio da pior tribulação que o mundo já viu o nosso Salvador ainda se preocupava com aqueles que não estavam preocupados com Ele.

‘Quando voltou, de novo os encontrou dormindo’ --- Como?!! Que cena lamentável!
Como esses homens se assemelham a nós! Quantas vezes o Senhor nos alerta através da Sua Palavra, nos exorta e nos chama para andarmos de forma diferente e ao invés de obedecermos, ao invés de passarmos nosso tempo vigiando e orando passamos nosso tempo dormindo (vendo coisas que não deveríamos, lendo coisas que não deveríamos, indo a lugares e ficando com pessoas que não deveríamos).

‘porque seus olhos estavam pesados’ --- Esses homens estavam cansados, não só exaustos por ser mais de meia-noite, mas Lucas noz diz um outro motivo para esse sono. Lc 22:45 Quando se levantou da oração e voltou aos discípulos, encontrou-os dormindo, dominados pela tristeza. O sono é uma forma de tentar escapar da realidade.
Há momentos em nossas vidas que requerem uma força extra, requerem de nós um esforço ainda maior – e durante esses tempos não há desculpas! Não há desculpa de cansaço e nem de tristeza.

‘Eles não sabiam o que lhe dizer’ --- Aqueles que tanto falavam agora estão em silêncio. Pedro, que gostava tanto de ser o primeiro a falar, está sem palavras. Eles estão envergonhados com a própria ação deles. 

A cena é muito triste para os discípulos não só porque eles não estavam com Jesus, não só porque eles não vigiaram e oraram quando Jesus mais precisava, mas porque eles estão cavando as suas próprias covas. Eles estão armando as suas próprias armadilhas.

II – o ‘basta’ de jesus (VS.41-42)
41 Voltando pela terceira vez, ele lhes disse: "Vocês ainda dormem e descansam? Basta! Chegou a hora! Eis que o Filho do homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores. 42 Levantem-se e vamos! Aí vem aquele que me trai!"  

V.41Voltando pela terceira vez --- Jesus saiu três vezes para orar. Três vezes Ele foi clamar pela força do Pai para que Ele pudesse vencer a pior de todas as tentações. Ah, que grande carinho e compaixão tem o nosso Senhor por cada um de Seus discípulos.
Mesmo quando estamos dormindo, mesmo quando não nos importamos com Ele, Ele ainda se importa conosco.

‘ele lhes disse: "Vocês ainda dormem e descansam?”’ – Três vezes Jesus saiu para orar, três vezes os discípulos fracassaram em orar e vigiar, e três vezes Pedro negará a Jesus! O sentido da frase é, “Vocês ainda estão dormindo e descansando!” – com certa ironia e indignação. 

‘Basta!’ --- Gk. ἀπέχω – o sentido literal é de chegar à totalidade de algo. Podemos traduzir como ‘é o suficiente!’ ou ‘chega!’.  
Esse ‘basta’ é como uma faca de dois gumes:
1 – Esse ‘basta’ corta todas as chances dos discípulos, pois acabou para eles. Três chances foram dadas a eles e em todas, eles fracassaram. Basta!
2 – Esse ‘basta’ destrói a última tentação de satanás. Acabou a pior de todas as tentações. O Filho Amado aceita qual é a vontade do Pai (Is 53:10) e toma em Suas mão o cálice da ira.
Satanás não queria que Jesus fosse para cruz, pois ele sabia que a cruz seria o seu fim. Ele queria que Jesus se rebelasse e não cumprisse a vontade de Deus (Mt 4). E aqui no Getsêmani, Jesus recebeu o último grande ataque de satanás – Jesus foi tentado a rejeitar o cálice. O ‘basta’ fala do fim da angústia interior e o fim da batalha com satanás. ‘Chega!’

Jesus se levanta como um leão que devorou Sua pior tentação através da oração e submissão!
Quão doce e maravilhoso é para nós lermos esse ‘basta!’! Quão maravilhoso é ver o Filho Amado vencendo a maior de todas as tentações e se submetendo à vontade do Pai. Esse ‘basta’ é que abre a porta para a cruz!
Mas quão terrível e amargo pode ser o ‘basta’ para os Seus discípulos. Esse ‘basta’ fala de quando o Senhor simplesmente entrega Seus amigos e discípulos para sofrerem as dores da falta de disciplina, fala de quando o Senhor pune e castiga aqueles a quem Ele tanto ama, para que por meio da dor nós possamos aprender. Por isso Ele, de forma irônica diz, “Dormi agora, e repousai” (Mt 26:45 – ACF). Muitas vezes o Senhor nos acorda para nos exortar em amor várias vezes durante à noite, e muitas vezes nós voltamos a dormir – chega uma hora que Ele diz, “Basta!”, e nos entrega às nossas vontades.

‘Chegou a hora!’ --- A tão esperada ‘hora’ está chegando! A ‘hora’ que o Filho não sabia (13:32) e não queria (14:35), agora é conhecida e recebida!
Essa é a hora para a qual todo o Antigo Testamento apontava, essa é a hora para qual todos os sacrifícios apontavam – a hora dos nossos pecados serem imputados à Jesus, para que pela fé a justiça dEle pudesse ser imputada à nós!

‘Eis que o Filho do homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores.’  --- Essa é a hora! A hora que Jesus é entregue nas mãos dos pecadores!
Ser entregue nas mãos dos pecadores’ é sinônimo de tomar o cálice da ira do Senhor!
No v.36 Ele pediu para que, se possível, o cálice fosse passado. O cálice fala do julgamento, da justa ira de Deus. Agora o Filho se levanta com as roupas vermelhas do suor com sangue, vencedor sobre a pior de todas as tentações e declara que tomará até a última gota daquele terrível vinho!

‘entregue nas mãos dos pecadores’  --- Que terrível contraste! O santo e sem pecado sendo entregue nas mãos dos impuros pecadores.

‘entregue’  -- Gk. παραδίδωμι  – ser abandonado, ser dado para alguém, essa palavra era usada para criminosos entregues à justiça ou quando uma pessoa justa e de boa reputação era traída e arruinada (The NIV Theological Dictionary of NT Words). Essa palavra fala da soberania de Deus. Rom. 1: 24, 26 e 28 – 24 Por isso Deus os entregou à impureza sexual, segundo os desejos pecaminosos dos seus corações, para a degradação dos seus corpos entre si. 26 Por causa disso Deus os entregou a paixões vergonhosas. Até suas mulheres trocaram suas relações sexuais naturais por outras, contrárias à natureza. 28 Além do mais, visto que desprezaram o conhecimento de Deus, ele os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem o que não deviam; 8:32 - Aquele que não poupou a seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com ele, e de graça, todas as coisas?;4:25 -Ele foi entregue à morte por nossos pecados e ressuscitado para nossa justificação.

‘nas mãos dos pecadores’ -- Sempre que essa expressão é usada com Deus sendo o sujeito ela tem um sentido de julgamento e, geralmente, está ligada a ira de Deus.

Ez 39:23 – E os gentios saberão que os da casa de Israel, por causa da sua iniqüidade, foram levados em cativeiro, porque se rebelaram contra mim, e eu escondi deles a minha face, e os entreguei nas mãos de seus adversários, e todos caíram à espada; Jz 2:14 – Por isso a ira do SENHOR se acendeu contra Israel, e os entregou na mão dos espoliadores que os despojaram; e os entregou na mão dos seus inimigos ao redor; e não puderam mais resistir diante dos seus inimigos; Sl 78:59-61 – 59 Sabendo-o Deus, enfureceu-se e rejeitou totalmente a Israel;60 abandonou o tabernáculo de Siló, a tenda onde habitava entre os homens.61Entregou o símbolo do seu poder ao cativeiro, e o seu esplendor, nas mãos do adversário.

O santo e justo Filho de Deus está sendo entregue pelo próprio Pai, em nosso lugar, para receber a justa ira do justo Deus. Os nossos pecados fizeram com que o Pai entregasse o santo e perfeito Filho nas mãos dos pecadores para receber uma punição terrivelmente violenta! É na cruz que Deus abandona totalmente Jesus, entregando o Filho nas mãos de homens que amavam as trevas.

Qual a reação de Jesus em vista dessa realidade tão próxima?
v.42 Levantem-se e vamos!  --- O Leão da tribo de Judá, o Rei dos reis, Christus Victor está pronto. Toda a aflição, toda angustia, toda dor mortal fez com que Jesus vigiasse e orasse e foi nesse período de oração e submissão à vontade de Deus que a vitória veio. Ele pisa sobre a cabeça da serpente e convoca Seus discípulos que estavam caídos de sono a se levantarem e partirem para a hora tão esperada.
O nosso Senhor tem suas roupas manchadas de sangue. As aflições, angústias e a profunda tristeza foram devoradas pelo poder da graça recebida durante o tempo de oração e Jesus se apresenta como um valente guerreiro, se submetendo à vontade do Senhor dos Exércitos e agora começa a marchar para enfrentar a morte na cruz! Que maravilhosa e temível cena deve ter sido essa!

O tempo foi o mesmo, tanto para Jesus como para os discípulos, mas como esse tempo foi usado é que mostra porque Um conquistou a vitória e os outros foram derrotados.

Hoje o Senhor te chama, ‘Levanta-te e vamos!’. Chega de melancolia, chega de se achar a vítima, chega de ficar dormindo por causa das tristezas – o Senhor dos senhores está dizendo, ‘Levanta-te e vamos! Vamos encarar nossas batalhas!’.

Assim, o nosso Senhor vai encarar o inimigo, triunfando sobre a tentação, através da oração. E eles vão enfrentar o inimigo e serão derrotados por causa da falta de oração. Nosso Senhor conquistou a vitória, derrotou o príncipe do inferno. Está coberto de suor com sangue em Sua bendita face e suas roupas encharcadas, mas Ele é sangrento e inflexível. Ele está pronto para enfrentar o inimigo. Ele vai enfrentar o traidor. Ele receberá seu beijo. Ele enfrentará os líderes judeus. Ele vai enfrentar os romanos. Ele irá para a cruz e Ele esmagará a cabeça da serpente. Ele será feito pecado por nós para que nos tornássemos justiça de Deus nele, e Ele triunfará sobre a morte e Ele destruirá a sepultura para ser exaltado a direita do Pai como Rei dos reis e Senhor dos senhores para sempre.(John MacArthur)

CONCLUSÃO:

O Jardim das Aflições – aquele lugar onde Jesus teve os olhos abertos para a realidade da ira divina, onde Jesus sentiu o peso e a severidade dos nossos pecados – se tornou para o nosso Senhor Jesus o Jardim da Conquista Triunfante! Que nos lembremos do Jardim das Aflições e de quão terrível é o pecado. Que o Getsêmani seja sempre um alerta para nós de quão horrível é o pecado. Que possamos nos lembrar da agonia e da profunda tristeza, uma tristeza morta, que veio sobre Jesus ao experimentar o peso dos nossos pecados. E que esse Jardim nos exorte a não entendermos os nossos pecados como algo leve. “Devemos perceber a agonia do nosso Senhor, no jardim de Getsêmani, a excessiva pecaminosidade do pecado. Esse é um assunto a respeito do qual os pensamentos dos cristãos estão sempre muito abaixo do que deveriam estar. A maneira superficial e negligente com que abordamos tais pecados, como a linguagem suja, a quebra do descanso dominical, a mentira e coisas semelhantes, serve de dolorosa evidência da baixa condição moral em que se encontram os homens. Portanto, que as memórias despertadas pelo Getsêmani produzam em nós um efeito santificador. Sem importar qual a atitude de ouras pessoas, jamais façamos do pecado motivo de zombaria. (J.C. Ryle, Meditações no Evangelho de Marcos, Fiel, pg 189)

Mas devemos nos lembrar também de qual foi a reação de Jesus para tamanha agonia e tentação. O Jardim das Aflições se tornou o Jardim do Triunfo por causa de como o nosso Senhor se comportou – em meio a mais terrível aflição que esse mundo já viu, Jesus vigiou e orou intensamente. Repetidas vezes Ele se retirou para orar – persistindo em oração.
Que aquela oração seja a nossa inspiração, “Contudo, não a minha, mas a Sua vontade seja feita!”.

O espírito deseja fazer as coisas certas, mas a nossa carne é fraca. Portanto, esforcemo-nos para vigiar e orar. Só assim não cairemos em tentação!  Não basta só desejar fazer o bem, não adianta só ter boas intenções, o Senhor nos convoca a orar e vigiar, pois as boas intenções e as grandes aspirações são facilmente vencidas pela nossa carne.

As palavras de Jesus para os Seus discípulos são repetidas hoje, “Acorda igreja!”. Que possamos estar acordados, vigiando e orando!

Quão bom é saber que apesar de nossa carne ser fraca e muitas vezes dormirmos como os discípulos, nós temos um misericordioso sumo-sacerdote que se importa com cada um dos Seus discípulos. Ele se importa com cada um! Quão maravilhoso é saber que a nossa salvação não está e não estava nas mãos de homens sonolentos, mas sim nas mãos de um terrível Guerreiro!

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